quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

[Sessão Crítica] Agente 86 - A adaptação anos 2000 de um seriado dos anos 60

POLITICAMENTE INCORRETO

Durante os anos 60, tempos de guerra fria, o produtor Daniel Melnick e a empresa Talent Associates planejavam criar uma história de humor que fosse uma sátira de James Bond. Como não tinham nenhuma experiência no assunto, para esta função, contaram com a ajuda do super Mel Brooks (O Jovem Frankstein), para auxiliar no roteiro juntamente com Buck Henry.

O resultado da série de TV, apesar de uma recusa de cara da rede ABC, se tornou sucesso nos EUA ao ser exibido na NBC, já que inicialmente os altos executivos da ABC o considerava sem graça e anti-americano. Razão: Logo no primeiro episódio, havia um vilão que queria fazer um ataque terrorista e destruir a estátua da liberdade (.. Bin Ladden na guerra fria?).

Maxwell Smart/ Agente 86 (Don Adams) 
e Agente 99 (Barbara Feldon) do seriado de TV original.

Com o seu sucesso no país,  a série ganhou dois filmes, inclusive o elogiado Agente 86, De novo?(1988), já que garantia, com fidelidade, a mesma diversão da série de TV.

Ainda entre a primeira e segunda metade de 2000, houveram uma onda de remakes e retomadas de produções das décadas de 80 e 60, uma atrás da outra. O Agente 86 ressurge aprontando na pele de Steve Carell (O Virgem de 40 Anos), que já demonstrava em seus trabalhos um elemento notável para boas comédias e então se aventurou nessa produção que une humor e adrenalina. Até que essa atualização, em um atual mundo cinematográfico cheio de novas necessidades e elementos rápidos em "High Tech", ainda que retomando alguns elementos sessentistas, dá certo.

Steve Carell (Maxwell) e Anna Hathaway (99)

Quem acompanha o Maxwell Smart/Agente 86 nessa empreitada é a estrondosa Agente 99, reencarnada pela Anna Hathaway (belíssima), esbanjando habilidade física, eficiência e sensualidade. Uma coisa que vai fazer muito "neguim" passar mal, principalmente nas cenas em que ela esta usando um vestido cinza brilhante: "- É coisa de louco! Tortura! " Portanto, sugiro aos marmanjos aí visitarem ao seu médico cardíaco antes.

Todas essas qualidades de cair o queixo, adotadas pela Agente 99, o próprio Max, que a conhece antes de ser nomeado (quase que dando a entender que era em "último caso"), o Agente 86, não tem.
Ele acaba quase que sendo o inverso da Agente 99 em tudo: não tem habilidade eficiente para elaborar um plano comum de campo, não tem beleza e não tem sensualidade; e nem um charme digno de um James Bond. Um azarado quase que por completo. Saindo-se na sorte em momentos complexos: é, taí um elemento que lembra James Bond.

É daí é que surge uma divertida competição entre os dois personagens. A Agente 99 com suas qualidades e o Agente 86 com seus defeitos, para concluírem juntos o fim da missão. Quase no fim, Max, já Agente 86, acaba aprendendo uma certa "técnica" nada comum/ ortodoxa para derrotar um inimigo durão.

Bill Murray esta no elenco como um dos agentes do Controle. Ele já havia atuado em uma outra refilmagem de série de TV dos anos 60: As Panteras (2000)

Com uma sucessiva sessão de piadinhas que brincam com aquele clima de espionagem, o filme chega a lembrar de certa forma aqueles velhos tempos dos filmes de ação em que envolviam humor e algum elemento romântico (ponham aí mais ou menos como exemplo o clássico True Lies com Arnold Schwarzenegger e Jamie Lee Curtis), já que quem acompanha Max é a Agente 99 (sua futura esposa na história original), assim como em muitas produções, formar um par romântico no final com um casal principal que estão juntos em todos os momentos de ação, é quase que inevitável. Mas isso ocorre de uma maneira bem convincente. A química mais uma vez funciona, Sem apelações muito água com açúcar ("já-que-agentes-não-têm-tempo-para-desenvolver-romances"), há uma tirada muito irônica no fim até mesmo com esses momentos tão frágeis. 

Uma cena com Masi Oka (à direita). 
Ele também atuou no popular seriado Heroes, como Hiro Nakamura.

Há também, neste humor escrachado, algum apelo sexual e 'homossexual', e as nojeiras - aparentemente elementos dignos de filme besteirol - adicionadas de maneira subliminar ou subjetiva no filme. Sendo assim, bem fina e mais inteligente do que esses filmes besteiróis extremamente apelativos que inundam, poluem e tiram a pureza dos queridos filmes de comédia: em que o humor inteligente e fino, acabava por se tornar algo pesado, violento, sujo e seco.

Os aplausos a esta refilmagem de Agente 86 é, justamente, por isso: por fugir dessa fórmula, cujos elementos já se desgastaram, e ainda arrancar risada do público. Até mesmo a violência não é pesada; quando ela vai ficar pesada, vem uma piada ou a piada já acontece em meio a situação, tudo dosado num ritmo certo. Ação e humor são distribuídos de forma equilibrada, sem um elemento se sobrepor a outra e, assim, caindo drasticamente para um contraste terrivelmente desproporcional.

Um contraste que poderia se mostrar ruim, é o fato deste Agente 86 não se atualizar totalmente em termos tecnológicos: já que ele ainda conta com alguns artigos já bem conhecidos dos tempos sessentistas, ainda que funcione como referência escrachada aos filmes de James Bond, principalmente os de sua época original. Por outro lado, aproveita de uma forma mais atual o que James Bond procurava ironizar naquela época e em tempos atuais com os últimos filmes. Se bem que o filme não chega a ser totalmente o "James Bond paródia", ele é único, assim como a série, e ao mesmo tempo não deixa de brincar citando 007.

Entre uma presença de novos astros e outros veteranos, conta também com uma participação de ninguém mais, ninguém menos do que Dalip Singh (WWExperience) como um capanga, antagonista semelhante ao temível Jaws (Richard Kiel) dos filmes clássicos de 007.

Uma coisa que deveria ser bem explorada seria a sequência em que os poderosos do Controle se reúnem na sala. Há uma discussão sobre a missão e sobre tais questionamentos engraçadinhos a respeito da Kaos (a rival). O desfecho da cena é que chega a ser mais sensacional pelo escracho, embora devesse pegar no pé de filmes e produções do gênero espionagem que marcaram essa primeira década de XXI: repetindo aquela câmera tensa e tremida enquanto ocorre a discussão e as piadinhas, transformando-o numa comédia verdadeiramente ácida. Um momento que se fosse bem estendido e aproveitado, seria ótimo.

Outra sequência que deixa a desejar, embora muito divertida, é quando 86 e 99 são descobertos pela Kaos (a agência rival). 86 lança o famoso telefone do trailer, essa cena poderia ter sido melhor aproveitada, 86 poderia usufruir dos seus embaraços enquanto tenta se disfarçar ou distrair seus inimigos, da forma que só ele sabe, e as habilidades da 99 mais exploradas sendo que sem muita atenção, para não perder a identidade da comédia, poderia até investir em algum apelo sexual também, até a virada definitiva na cena.

Don Adams (O Agente 86 da série de TV. À esquerda) e Carell 

Steve Carell, com a sua característica séria que faz rir, que para efeitos de comparação ao ator Don Adams assistam Agente 86 (a série de TV original), surpreende ao aceitar esse projeto. Sua escolha em entrar num remake de uma produção que já foi grande sucesso no passado, ainda mais nas mãos de um astro daquele momento, pode parecer até que foi precoce, mas mesmo assim ele se esforçou em se estabelecer como um dos talentos mais interessantes da segunda metade daquela década, só pela ousadia em demonstrar versatilidade no gênero. Já convenceu.

Este filme dividiu críticos, num complemento geral: apesar de agradar também a um público que nunca sequer viu a um episódio da série, e podendo também agradar a um público infanto-juvenil, é também preciso ser íntimo da série para entender mais da essência do filme; é preciso saber como aceitar as piadas leves, e variadas, que são distribuídas para vários estilos de público. E ainda mais que nas mãos do Mestre Mel Brooks, quase tudo dá certo.

Agora, corra atrás dessa obra para se divertir com O Agente 86!


Memória Pós-Crítica
AVALIAÇÃO DA CRÍTICA ESPECIALIZADA

Jornal do Brasil:
Jornal O Dia: 
Jornal O Globo: 

CURIOSIDADES

- A identidade da Agente 99 não é revelada em nenhum momento na série de TV [spoiler] e nem no filme[/spoiler]

- Jim Carrey esteve cotado para uma nova versão em 1998 de um filme do Agente 86, mas o projeto não foi para frente.

- Enquanto o filme esteve exibido, Agente 86 - A série de TV - passava no canal pago Nickleodeon (Net/SKY/Direct TV/TVA). Atualmente é exibida pela Rede Brasil. 

- Controle (a agência do Agente Maxwell Smart/Agente 86) e a Kaos, é na verdade uma sátira referente à rivalidade entre a CIA e a KGB naquela época.

Galeria

Trailer


SESSÃO CRÍTICA
AGENTE 86
(Get Smart, EUA,2008,110 min, Ação/Comédia,12 anos)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...