sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

[Sessão Crítica] M3GAN: Não Julgue o Filme pelo Marketing

 


Esse filme pegou todo mundo de surpresa e é uma pena não estar tendo a atenção que merece.

A convite da Cinesystem como aniversariante, a aposta foi esse interessante lançamento: M3gan. Juro, o expectador comum não espera o que assistirá nesse filme.

A princípio, a capa e divulgação modesta de M3gan pode não chamar a atenção para os verdadeiros apaixonados por boas histórias no cinema - eu digo aqueles que possuem um olhar mais amplo e não apenas específico: o fã de Terror tradicional. 

Essa é uma rara comédia de terror. A sensação é de que todos do elenco estão brincando o tempo todo - mesmo nos momentos em que se pede uma carga dramática maior, ela é passada de uma forma fria para dar atenção ampla a um ambiente em questão, um cenário a ser discutido: inteligência artificial e a natureza real, o que sobra disso ? Há uma certa queda de braço entre esses dois elementos em questão.

O elenco não tem uma profundidade dramática mas é nítida a forma como a história busca fortalecer o entretenimento e assim destacando a mensagem. Porém, além da mensagem há o momento da distração que faz o espectador entrar na trama sem perceber. Essa é a mágica que o cinema precisa: te fazer acreditar nela. 

Mas para o espectador inquieto que prefere só assistir a videoclipes assustadores, fuja logo daqui, esse filme não é para você.  M3gan tem substância e embora a divulgação destaque James Wan na produção (a revelação do Terror dos últimos anos) para impulsionar a então nova (e anônima) produção, pode ter certeza que ele entrega muito mais do que promete. 

E como as relações familiares são distanciadas pela tecnologia ? Essa questão moral não tem pressa em ser desenvolvida. Com a destruição dos laços familiares, a inteligência artificial é apresentada como superior: incorrigíveis e perfeitos - e não é assim que essa sociedade (já escrava dependente da tecnologia) se apresenta nas redes sociais antes de responder qualquer assunto ? E isso graças a sua maior amiga: o Google. Quanto a isso, pautas para virais de humor (memes) são trocadas pela essência de comédia (ainda que pareça ter toques infantis propositalmente infames) e que para alguns podem ser interpretados apenas como uma paródia ( o que não está errado ).

Alguns críticos parecem não ter entendido bem esse sentimento constante de querer parecer galhofa a todo momento na projeção (fazendo-os se confundirem, graças ao "marketing"que eles viram, como um roteiro canastrão ou que não existem elementos tão importantes a serem debatidos além da protagonista) mas acontece que o longa recebe surpreendentes 95% de aprovação da crítica em geral segundo o polêmico Rotten Tomatoes. E só isso já me despertou a curiosidade. 

Eu não olhei a sinopse e ignorei toda a divulgação de meses de marketing, praticamente passou despercebido por mim. Mas quem fica 24 horas pregado no You Tube certamente pode ter acompanhado alguma coisa. Muitas vezes o marketing pode atrapalhar o interesse do filme num geral ou até mesmo os trailers - pois se trata de uma visão mais comercial do que a de uma visão artisticamente durável. Não é uma regra mas esse título em especial merece obter a menor informação possível para que o espectador mais sensível e detalhista possa ter a mais natural experiência que conseguir de todo o processo. 

E foi assim, com essa mínima informação que conheci bons títulos de filme desde os tempos do VHS apenas com o nome do filme na etiqueta entre uma série de gravações colecionáveis. E tudo isso ajudou a me surpreender com títulos já badalados em sua época a me trazer uma experiência muito melhor do que apenas aguardar o resultado do filme por uma única cena ou pelo destaque de um único personagem ou de uma única situação. Dá pra entender como a máquina do "spoiler" funciona a ponto de estragar uma experiência ? Pois é, pro espectador que está buscando algo que o marque como a sua vida cinéfila é importante que ele não tenha revelações que vá tirar a sua experiência na trama.  Em todo caso, o espectador mais exigente não entra a sério na história e não a sente o suficiente.

Além de uma rara e histórica alta avaliação em uma exigente plataforma de produções cinematográficas e, combinado, em sequência, a esse pequeno clipe que viralizou no You Tube (e que veio pra mim como recomendação), a cena da boneca dançante , já foi suficiente para mim ter uma noção do quanto M3gan é diferente das outras projeções do gênero. 

Para outras pessoas, é necessário que algo se repita infinitas vezes e que pra mim já cansaria e me desinteressaria de assistir tal obra. Por isso, na maioria esmagadora das vezes, o "spoiler" estraga a minha experiência. E essa tecnologia chamada internet faz isso muito bem com memes repetindo a mesma piada tola toda vez ( coisa quem que ri de Chaves por mais de 30 anos feito um retardado adoraria sem pestanejar.). 


E o melhor de tudo é que a história não apenas se limita a uma rara narartiva da superioridade da inteligência artificial sobre a humanidade como a superioridade da inteligência artificial sobre o instinto e os sentimentos da natureza num geral. Eles nunca o tirarão do sério e nunca o irritarão - assim como um cachorro seria capaz de fazer, por exemplo, rapidamente nos levando a criar que a inteligência artificial são os melhores amigos do homem ou os seus melhores mascotes. E então a trama coloca o espectador nessa cabine e subverte esses valores para os problemas que viriam a acontecer. Esse é o grande terror da questão - combinando sutilmente alguns grandes clássicos do cinema como O Exterminador do Futuro e até mesmo O Exorcista. 

Tudo o que poderia dizer sobre M3gan é que, se você ainda não conhece a obra, tente não se contaminar com os virais baratos do longa metragem. Se você não tem preferência por gênero e busca uma boa história, esse é um dos melhores filmes dos últimos anos - a construção da protagonista é inteligentíssima e todo o seu cenário é inspirador, vale uma observada.

Memória Pós-Crítica 

- Com direção e roteiro de estreante Gerard Johnstone, de alguns trabalhos para a televisão, o elenco tem atuação em produções fora do cinema (com experiências televisivas e alguns até mesmo estreantes como narração de videogame, como a pequena Violet McGray). 

- A inteligência artificial é possível evoluir na forma como vimos na história ? Uma cientista chamada Katie Darling prestou depoimento ao The Guardian alegando que é impossível que a IA evolua de tal forma nas próximas duas décadas e que acreditar em filmes como esse é um exagero: "Eu não acho que vamos ter algo que esteja nesse nível de IA sofisticada na próxima década ou duas [...] As pessoas distorceram completamente as expectativas do que a robótica pode fazer neste momento, graças a filmes como este." esclarece. Bom, mesmo não tendo grande estudo ou veracidade científica, os filmes de ficção científica e terror ainda são fantasia mas o terror psicológico está instaurado, basta só o homem ter consciência do que está fazendo. Sendo um entretenimento, fica o alerta.

- M3gan é interpretada por Amie Donald, numa mistura de efeitos visuais e maquiagem.  Aos 9 anos, Amie foi selecionada como parte da Equipe NZ na Copa do Mundo de Dança em Braga, Portugal (2019). Ela foi a primeira artista da Nova Zelândia a ganhar uma medalha, depois de receber uma medalha de prata para o Jazz, e medalha de bronze para a dança contemporânea. Jenna Davis é a voz da protagonista (que provavelmente o rosto seja inspiração em sua fase mais jovem). Mais dos bastidores em M3gan: Behind the Scenes.  

- Uma continuação está prevista para 2025 intitulado M3gan 2.0. 


SESSÃO CRÍTICA

M3GAN

SESSÃO ACOMPANHADA: 19 DE JANEIRO DE 2023

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