sexta-feira, 19 de março de 2021

[Sessão Crítica] Liga da Justiça: A versão de Zack Snyder (Zack Snyder's Justice League)

DE VOLTA AO CINZA


Não é de hoje que obras mal recebidas pela crítica e público recebem diversas revisões do diretor ao longo dos anos. Assim é o caso de um dos mais conhecidos: Blade Runner: O Caçador de Androides. Obra de ficção científica que levou anos para ter seu devido reconhecimento, até 1992 e as suas diversas versões do diretor. Ou até importantes sequências de longa metragens que se tornaram um marco não só no universo de adaptações de quadrinhos como para o cinema, é o caso de Superman II: A versão de Richard Donner (Superman II: The Richard Donner Cut, 2006).  E toda vez que eu lia essa história de "Snyder Cut", sempre me lembrarei dessa outra história de Donner Cut. 

Mas é nesses últimos anos que passamos a testemunhar todo o processo orgânico de um movimento tão importante em defesa de uma visão mais fiel ao que foi originalmente pensado para aquela obra cinematográfica.

Com impressionante comoção e sensibilidade, é assim que descrevemos a mais recente revisão de uma das obras homônimas de um diretor cultuado por uma legião de fãs da cultura pop dos super-heróis. Também, nunca houve um movimento tão ensurdecedor diante de uma sufocante defesa o qual se questionam as avaliações da crítica sobre os longa metragens. 

Desde que o regular Batman v.s. Superman: A Origem da Justiça foi lançado, uma overdose de fãs advogados vieram em defesa ao boicote ao site Rotten Tomatoes, grande parâmetro das críticas de filmes da era digital ao ser um serviço que reúne as mais diversas avaliações de críticos. O site nada mais, nada menos é do que um grandioso banco de dados que resulta numa avaliação final. Antes disso, nunca se houve um alarde tão grande em defesa de algum outro título que tenha sido mal recebido pelos críticos. Parece que, nesse ponto, pouco importa muito a rejeição que tiveram já que, muitas vezes, as adaptações de quadrinhos para o cinema buscavam trazer alguma linguagem mais ampla e adequada com o mundo real. 

Mas eu posso dizer o motivo pelo qual Zack Snyder é tão defendido. Há um público pouco exigente nesse meio, e não é o público do cinema, é o público mais conservador que lê quadrinhos e quer ver aquela cena do quadrinho em movimento na tela. Zack Snyder sempre foi muito profissional quanto a construir um impacto visual impressionante - e é isso que encanta tanto em seus filmes. Porém, falha na profundidade em explorar os personagens de uma forma concreta. Mas há boas intenções ao atualizar e tentar adaptar o cenário deles para o mundo real. Sendo que a maneira como os personagens são desenvolvidos nesse cenário são trabalhados com muita pressa e falta de organização. Isso já ocorria em Homem de Aço e piora em Batman v.s. Superman. Peca pelos excessos e compromete o envolvimento da audiência que realmente quer assistir cinema e não um videoclipe arrojado de um quadrinho. Os leitores de quadrinhos mais conservadores agradecem mas os mais exigentes não.

A verdade é que nem tudo que está no quadrinho vai realmente funcionar da mesma maneira que num longa metragem, já que são mídias completamente diferentes entre si. Em um quadrinho, cenas podem ser desenvolvidas simultaneamente enquanto que no filme, todas essas cenas precisam ser desenvolvidas em cada corte. Existe uma percepção errada sobre adaptações e formas de ver filmes por uma audiência obcecada somente por quadrinhos. 


É de movimentos como esse que nem mesmo as mídias de crítica que avaliam filmes acabam sendo confiáveis. Começamos então a ver uma overdose de elogios de uma imprensa, não de jornalistas ou críticos, mas de publicitários, sufocando o banco de dados da internet para logo depois de seu lançamento estes mesmos títulos receberem uma enxurrada de críticas negativas. Portanto, acabamos por também desconfiar quanto as críticas positivas desta nova versão de Liga da Justiça em distribuição por alguns serviços como o Google Play - posteriormente, será parte do catálogo da HBO MAX que chega ao Brasil em breve.

Optamos por alugar o filme em formato HD (versão única disponível) pela Google Play para conferir. O serviço deixa o filme por até 48 horas. Zack Snyder' s Justice League sai por R$ 49,90 mas com o cupom promocional ele sai por R$ 3,90. Foi, sem dúvida alguma, um ótimo negócio que fizemos. 

A versão de 2017 (que não é ruim, mas poderia ser melhor) saiu de catálogo assim que se disponibilizou a versão de Zack Snyder. Porém, foi possível ver uma outra cópia disponível na versão aplicativo para PCs da Google Play. 

Sabendo pela alta demanda de fãs e a febre com o cinema de super-heróis gerou, somada a popularidade de Liga da Justiça (especialmente do desenho) os cortes de Zack Snyder chegaram a duração de 241 minutos (o maior filme de super-herói da história). Ao todo, 4 horas de um único filme. Antes disso, a ideia era de que fosse dividido em capítulos semanais. Por um lado, seria bom, para evitar desagradáveis vazamentos ou revelações antes da hora (ainda que tivesse sido inevitável com esta produção), por outro, foi uma ótima escolha, uma vez que cenas da primeira versão para os cinemas já estavam por lá. 

Essa ideia de capítulos semanais não é novidade para um filme de super equipe. Uma vez que o cultuado diretor Jon Favreau (da época que era os olhos da Marvel Studios por Homem de Ferro) tinha a mesma intenção de fazer de sua versão descartada do filme Os Vingadores - The Avengers, como um filme semanal para os cinemas (provavelmente em quatro partes). A ideia ficou no papel e nunca concluída por tal complexidade até ser realizada pelo (agora) polêmico Joss Wheedon. 


Pelo que pode demonstrar, mais do que todos os esforços da audiência clamando por uma versão de Zack Snyder de Liga da Justiça (o qual o diretor teria se afastado por questões trágicas e cedido espaço à Warner contratar urgentemente Wheedon) o trabalho de Snyder, junto ao apoio dos produtores, foi além do que uma mera campanha para arrecadar inscrições para a HBO MAX, mais uma nova plataforma de streaming - outra da nova onda da televisão paga, febre impulsionada pela era digital da internet banda larga. Embarcando na mesma onda de querer desbancar as caríssimas TVs por assinatura o qual conhecemos. E em acompanhamento, temos as já conhecidas Netflix e Amazon Prime. E pelo que parece, os próprios estúdios de cinema e da TV estão começando a investir nisso (alou também à Disney Plus, Paramount e a Star - antiga FOX, antes de ser comprada pela Disney). 

Só sabemos que, no final das contas, isso tudo vai acabar saindo mais caro que as próprias TV a Cabo se todas realmente decidirem ter seus próprios canais e o espectador quiser mantê-las de forma vitalícia. A vantagem é que pode ser cancelada a qualquer momento, a desvantagem é que: ou assiste ou escolhe assistir contando as moedas no bolso. 

Mais do que uma mera campanha comercial, o empenho de Snyder em finalizar a sua versão de Liga da Justiça é apaixonante e visível para a própria audiência. Apesar de contar com uma campanha forte no início, aparentemente os milhares de anúncios por lançamentos simultâneos entre cinema e streaming soterraram a divulgação de Zack Snyder' s Justice League. Os fãs não esqueceram, a audiência não esqueceu e a crítica publicitária também não. Estiveram com Zack na divulgação, do início ao fim,  em favor de não esquecer esse lançamento que, segundo boatos, ocorriam ameaças de boicote pelos corredores. Mas, como um lançamento tão grande e que tomou bastante proporção poderia ser cancelado no meio do caminho ? Acusações como as de Ray Fisher (intérprete de Cyborg/ Victor Stone no filme) acabavam tornando o caso bastante crível, uma vez que é claramente notável a importância do seu personagem neste corte estendido.  

O grande problema é que as acusações de Fisher atacavam o coração da produção do filme de 2017 e dos demais produtos recentes relacionados aos filmes adaptados dos quadrinhos da DC ( o que também inclui Joss Wheedon). O que parecia, segundo teorias, é que a versão de Wheedon teria sido uma forma de zombar da versão descartada de Snyder. Mas, como a música Hallelujah de Leonard Cohen, Liga da Justiça de Zack Snyder (2021) é um milagre que tomou forma e ganhou vida para a audiência consumidora de filmes do Universo DC. Especialmente aqueles que já estavam descrentes desse Universo Estendido que tanto falhou na maioria de suas produções. 

Portanto, o milagre é real. Zack dedica à sua filha Autumn, em memória, e nos presenteia com um excelente corte de Liga da Justiça. Desta vez, toda dele. Com as câmeras lentas familiares e um ambiente mais cinzento. Porém, mais do que em suas outras produções, como Homem de Aço e Batman v.s. Superman, aqui a exploração da história e dos personagens não se preocupa em se apressar. 

Os personagens não tem pressa alguma em se desenvolverem na direção de Snyder, tudo corre de uma forma bastante calorosa e envolvente - até mesmo um tagarela Erza Miller (The Flash/ Barry Allen) se torna encantador em cenas icônicas. Cyborg tem então a sua história de origem enfim devidamente contada e acaba sendo o coração do filme (a razão pelo qual o próprio Fisher, o ator do personagem, se viu emocionado e agradecido em uma recente publicação em suas redes sociais). 

A grande surpresa do elenco está com a volta do Coringa de Jared Leto, nos mostrando mais de seu sutilmente sedutor e simpático homem que ri de forma macabra. Em suas risadas pausadas, é, de certa forma, irritante mas é assim que Coringa tem que ser, perturbador de certa forma. Num diálogo entre Jared e Ben Affleck (Batman) os diálogos de Jared são levemente mais bem cuidados que os de Affleck (mais simples e mais frios) e isso é notável. 

Pela forma com que os personagens tiveram um certo cuidado de serem melhor explorados por aqui, dá muito mais vontade de ver o que realmente teria acontecido mais pra frente. Ainda assim, é um pouco traumatizante lembrar o tanto de estrago que esse universo DC recebeu desde seu início. 

Ainda assim, com novas adições técnicas e uma revisão nos efeitos visuais, transforma tudo em um entretenimento extremamente satisfatório - mesmo para um longa metragem lançado há 2 anos, os voos de câmera já nos mostra o quanto uma produção como essa seria importante se vista por uma grande audiência no cinema se não fosse por conta dos problemas de saúde mundial o qual ainda enfrentamos. 

Além dos leves ares épicos (justamente por se tratar de um panteão dos mais fortes super-heróis dos quadrinhos) que a trama nos proporciona, como sempre, a trilha familiar e afiada de Junkie XL dá muita conta do recado e só traz um arranjo devido do que é essa verdadeira, emocionante e melhor união da Liga da Justiça em um Universo Cinematográfico DC. 


SESSÃO CRÍTICA

ZACK SNYDER'S JUSTICE LEAGUE

Sessão Acompanhada: 18:49 - 18/ 03/ 2021 - Google Play

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