sábado, 18 de novembro de 2023

[ Chapéu & Chicote! Sala 2 ] Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984)

 UM PRELÚDIO 
DE CAÇADORES
Indiana Jones encontra o seu O Império Contra-Ataca da trilogia


George Lucas, havia em parte interesse em se distanciar de Caçadores da Arca Perdida, contar uma história nova, e em outra parte vivia um tormento pela separação de sua esposa. Lawrence Kasdan não se interessou em retornar porque sentiu-se assustado com o roteiro. Para o icônico roteirista de Caçadores, não havia romance o suficiente. Inicialmente a história seria pensada girando em torno de uma casa mal-assombrada. Spielberg não gostou da ideia porque não queria realizar mais um Poltergeist: O Fenômeno (1982), fora que ele havia acabado de lançar E.T. O Extraterrestre e não queria perder a sensação de bom humor.  Lucas então, sugeriu mudar a história da casa mal-assombrada e centrar no Palácio de Pankot. Spielberg concordou e entrou na história para equilibrar com a luz a escuridão do script. 

O enredo sombrio pegava pesado na cultura indiana o que fez que a Índia proibisse a produção por lá. Eles então seguiram suas filmagens em Sri Lanka, uma localização do Sul da Ásia. E então o Palácio de Pankot seria feito num estúdio. Originalmente, as explorações seguiram na Cidade de Jaipur na Índia, para representar a morada do marajá, Zalim Singh (Raj Singh). 

A classificação Para Maiores de 14 Anos (PG-13) acabava de ser inventada nos E.U.A. em 1984 e Indiana Jones e o Templo da Perdição seria um dos primeiros a serem contemplados pela nova faixa etária. 

Também foi planejado inicialmente que Marion retornasse nessa segunda aventura embora tenha sido decidido de que era necessário que Indiana pudesse ter uma mulher diferente em cada filme da trilogia (de Bond Girl para Indy Girl para concorrer com James Bond ? ). Essa variação trouxe uma qualidade única para cada longa. Afinal, cada história era uma aventura independente da outra. Se em Caçadores, Marion era uma protagonista de fibra, agora, em Templo da Perdição, temos a contora Kate Capshaw fazendo muito do seu inverso para encarar a personagem Wiilie Scott.

Willie, além de ser o alívio cômico, era medrosa (Kate, a própria atriz, que não tinha interesse em estrelar a produção, acreditou que seria uma ótima oportunidade para estrelar outros filmes) e no quesito ser medrosa a atriz tem muito da própria personagem (ou seja, muito do que vemos no filme não era atuação mas sim medo real da artista - que tinha que tomar calmantes em cena para poder lidar com insetos e outros animais rastejantes). Já no caso de Harrison Ford, ele nunca sentiu medo dessas cenas,  nem de insetos e nem de animais (e nem mesmo de cobras, que é a fraqueza de seu protagonista), levando em consideração que o ator teve experiência como guarda florestal quando jovem.

Muito se discute sobre o filme passar a imagem de misoginia e até machista: seja pelos indianos considerarem um insulto a sua visão social ou pela forma como a personagem de Kate (Willie) é representada e que na verdade é o inverso de sua personalidade - sendo ela uma mulher consideravelmente feminista declarada (para os teóricos da conspiração, é prato cheio para dizer que o inverso disso acaba sendo uma paródia involuntária de sua interprete). Na sua visão feminista, Kate é bem mais adepta a expressiva ideia de bravura e independência do que a visão mais sensível e de maior dependência emocional adotada atualmente.

Willie é uma mocinha chorona e mimada. Antes, uma cantora banhada em luxo e que, acidentalmente, cai numa cultura radicalmente diferente ao ter que lidar com uma vida carente, de extrema pobreza e recursos extremamente precários. Sua forma de reagir a tudo isso a torna aqui como a personagem mais humanizada da história o que deixa tudo muito mais engraçado e curiosamente divertido - de luxuosa a a uma reclamona frustrada. E da visão do herói Indy, vemos um personagem destemido e com amor incondicional, dando uma lição de humildade a Willie. Esse contraste imenso de personalidades é extremamente interessante de acompanhar por que torna a história ainda mais imprevisível e instigante.  

Mas uma curiosidade bacana é que Kate teve de aprender mandarim para cantar na introdução do filme.  Essa cena inicial do número musical Anything Goes em Shangai, numa proposta imaginativa, é possível ver a sequência começando em preto e branco e tomando forma colorida como uma transição dos filmes dos anos 30 para a atualização dos anos 80. Se um longa propõe criatividade a uma aventura clássica ele já se torna interessante o suficiente para se tornar um novo clássico e O Templo da Perdição conseguiu esse feito. 

Da parte dos indianos, a característica mais exagerada vem da parte dos vilões (afinal, eles precisam ser cruéis e loucos de verdade, uma vez que lidam com sacrifícios e aparentemente alguns deles estão entorpecidos pelo sangue de Kali). Willie é a mocinha em apuros que é salva pelo mocinho quase sempre mas, ainda assim, ela reage em alguns momentos sendo uma peça fundamental para a salvação do herói (enquanto isso se mistura com alívio cômico). Arrogante, porém, atrapalhada e heroína.

O Templo da Perdição é compreensivelmente controverso - enfrenta alguns pontos sensíveis da cultura estrangeira e é interessante e divertido ao mesmo tempo a forma paródica como lida com esse choque de culturas entre o ocidente e o oriente. Indiana Jones sempre aderiu a forma cartunesca e aqui, no meio dessa linhagem de trilogia, ele expressa isso de uma forma completamente sem vergonha, no melhor sentido da palavra: muito ousado (e isso é extremamente bom). 

A ousadia de Spielberg e Lucas nessa segunda aventura demonstra um topo de qualidade que dificilmente outros longas de continuação de um clássico - e que também são clássicos ou até mesmo superiores ao original (como esse) - jamais chegariam. Lançado em 23 de Maio de 1984, arrecadou U$$ 333. 1 bilhões (de U$$ 28 milhões de orçamento) sendo o filme mais rentável de 84. Um título que, pelo seu estilo de visão ocidentalizada, surgiu com críticas mistas, mas que ainda assim se tornou um merecido sucesso e que também figura entre os melhores filmes ou melhores sequências de sucesso de todos os tempos até hoje.  

A verdade é que fazer um longa com padrão de alta qualidade e ainda assim ser controverso mas também amado (ou reconhecido como, apesar de ser controverso, é um excelente entretenimento) é um feito que nenhum longa metragem consegue realizar atualmente: uma vez que há uma mensagem social e política por que leva isso a sério demais (um motivo do por que as comédias realmente morreram) mas o entretenimento acaba sendo deixado de lado e, automaticamente, a própria audiência acaba ficando de fora. Ou seja: a mensagem dura por algum tempo mas logo depois que esse longa acaba, essa audiência não retorna ou reprova o longa como mais um passatempo passageiro que não retornaria a ele de novo (o que não é o caso aqui em O Tempo da Perdição).

Sendo um prelúdio de Caçadores, Templo da Perdição ainda se passava num período de guerras históricas e os E.U.A. são representados aqui como um protagonista imponente, embora humano, e a China, na aliança, encarnada numa criança, o adorável Short Round (Ke Huy Quan) - que pode levemente incomodar uma audiência mais velha (focada na seriedade da trama) com o seu jeito exageradamente serelepe. 

Templo da Perdição é o mais divertido da trilogia justamente por ter um ritmo ágil, entretenimento constante e ótimas cenas de ação (sem dúvida as melhores de toda a cinessérie). Um legítimo filme de ação de Indiana Jones que não cai o ritmo em nenhum momento. Além disso, conta uma história bem diferente em relação a todos os filmes, sem sobrar muito espaço para nostalgia - o que ocorre bastante com os filmes posteriores, sempre se sentindo obrigados a ceder homenagens ao filme 1981 para todo o sempre. E aqui, temos alguns leves elementos que remete ao clássico de 81, como Indy saudando uma estátua enquanto pega o artefato (da mesma forma que na introdução de Caçadores) e é então que vemos que a situação vai piorar sendo que de uma outra forma, ainda mais inesperada e verdadeiramente pessimista, num dos desafios mais emocionantes: Indiana realmente mergulha no inferno e retorna. Se tem algo que valoriza o herói de uma história de ação é quando a história abstrai o máximo do personagem e é o que ocorre aqui em O Templo da Perdição.


Memória Pós-Crítica
Realidade x Filme

A ameaça a ser enfrentada pelo herói é algo ainda muito mais antigo que os nazistas e envolve a religião hindu. Apesar de toda a imaginação, os assassinos vistos no filme realmente existiram. Eles não realizavam os rituais macabros como no filme mas eram conhecidos como assassinos e ladrões (realizando o latrocínio: roubo seguido de morte) - denominados pelos inglês Thug: termo que ficou popular informalmente até mesmo na cultura pop e publicidade e que nos E.U.A. veio a ser parte de um movimento social promovido pelo rapper Tupac. O movimento Thug Life era uma crítica ao sistema em defesa da comunidade pobre americana (a fim de diminuir mortes banais como as que ocorriam com abusos da autoridade). 

Os verdadeiros Thug vieram do Século XIV, originalmente chamados de Thuggers, e o longa de cinema projeta a história supondo o retorno desses ladrões que agora oferecem sacrifícios a uma Deusa hindu, Kali Ma, durante a década de 30 - época em que a Índia estava sendo controlada pelo governo britânico. Mas na realidade, os Thuggers teriam sido todos eliminados em 1870.

Apesar das liberdades criativas na trama que envolvem os bandidos seculares que atormentaram a Índia a presença e certas construções históricas envolta desses vilões é cientificamente aceitável. 



Memórias da Sessão
Reações mistas da crítica

Para a minha surpresa (que só se divertiu com o filme rindo e vibrando até o fim) foi muito estranho conhecer a internet e ver que este longa tem críticas mistas - divide opiniões. Eu vi o mundo e observei o quanto as coisas são realmente muito diferentes, estranhamente diferentes. Tem gente que costuma ter fetiches extremente estranhos, um mal gosto incrível e acha isso profundamente normal. Mas é a vida.

Pelo menos, essa sequência injustiçada está sendo melhor reconhecida por parte de bons pensadores que sabem separar ficção da realidade. 

Na época em que assisti ao longa, só encontrei excelentes avaliações dele. Praticamente as críticas concordavam comigo - o que é um pouco diferente agora: bons pensadores lutando para mostrar que o filme é muito melhor do que pessoas mais quadradas imaginam. 


Curiosidades da Trilogia

- Indiana era o nome do cachorro de George Lucas. Willie era o nome do cachorro de Spielberg e Short Round era o nome do cachorro do casal de roteiristas Gloria Katz e Willard Huyck. Haja cachorrada!

- Títulos de Indiana Jones como o título antigo As Aventuras de Indiana Smith e Indiana Jones e o Templo da Perdição remete e muito a títulos de histórias do super-herói Capitão Marvel (como As Aventuras de Capitão Marvel e Capitão Marvel e o Templo de Itzalotahui).

- A cena da ponte, exemplo, dava uma aflição em todo o elenco e produção mas Harrison Ford, sempre com um enorme senso de humor, passava pela ponte correndo e na base da brincadeira (fingindo ser um desenho animado desesperado abanando as mãos) - embora a ponte tenha sido bastante segura na construção (tendo que ser explodida por bombas). 

- Mola Ram (Amrish Puri) é o primeiro vilão principal em que Indiana Jones realmente sai no braço e também um dos raros antagonistas a ter poderes sobrenaturais. 

- Uma cena de dança mais envolvente foi planejada no começo mas teve que ser descartada por que o vestido de Kate restringia os seus movimentos.


 SESSÃO CRÍTICA 

INDIANA JONES E O TEMPLO DA PERDIÇÃO

INDIANA JONES AND THE TEMPLE OF DOOM


Chapéu & Chicote! A Trilogia Indiana Jones
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30 DE NOVEMBRO ÀS 20: 00


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