Em um país de misturas, O Agente Secreto celebra a cultura local pernambucana com toques de gêneros clássicos do cinema hollywoodiano.
Uma das novas promessas do Brasil no cinema internacional e na campanha da corrida rumo às indicações ao Oscar (para sua consideração - FYC). Pela primeira vez na história, o país foi muito bem representado como o vencedor de Melhor Filme Estrangeiro em 2025 e também foi indicado nas categorias principais, Melhor Atriz e Melhor Filme, este último, feito inédito.
Longa de Kleber Mendonça Filho que já tem em sua filmografia Aquarius e Bacurau, algumas promessas de campanha no Oscar mas que foram frustradas. Com O Agente Secreto, acreditam os especialistas que ele deve sair com pelo menos uma indicação a Melhor Diretor. Vamos ficar esperançosos?
O título do filme em questão é muito associado ao espião mais famoso do cinema (só de você ler já escuta a música). Automaticamente, essa conexão com o cinema internacional tem uma brincadeira que chega a ponto de nos fazer associar a um filme dentro do filme. Peraí, então é por isso que o título se chama O Agente Secreto? Afinal, o que diabos significa?
E nessa brincadeira faz de conta, chegamos na identidade do próprio Wagner Moura com duas falas importantes em um momento de tensão e silêncio: “- Você é policial? Tem cara de policial.” Aquela cena de comédia espontânea sem parecer engraçada é o que nos faz sorrir na cadeira. Sim, não é duplo zero, mas é osso duro de roer.
Em meio a essa “entrevista forçada”, Wagner Moura se nega, mas a gente sabe que é verdade (em algum universo cinematográfico).
Podemos associar muitas mensagens que podem justificar o título. Mas, do ponto de vista mais sincero, elas não estão intimamente atreladas às identidades do nosso eterno Capitão Nascimento no longa.
Num misto de suspense, policial e drama, a história se passa em Recife, 1977. As características logo remetem, mais uma vez, ao cinema internacional. O ano ambientado imediatamente reluz, indiretamente, a uma certa Ópera Espacial. Referências aos primórdios do cinema catástrofe e da ficção científica se adaptam ao gênero de investigação com elementos folclóricos. Por vezes, espalhafatosos, fantasia e realidade se misturam nesse conto de ação ambientado num dos períodos mais criativos do cinema. A descrição daquele cinema ali, próximo, anuncia: “King Kong, breve”. Mas não se trata do King Kong, o clássico, mas sim da refilmagem setentista, menos glamorosa e mais sombria, violenta.
É nesse ambiente que nos convida a referências, entregando misturas, não só culturais como também de gerações, que a trilha sonora internacional afia o acompanhamento natural dos costumes brasileiros em meio ao trajeto nas ruas pernambucanas da cidade.
No conjunto de cores e tons, há traços humanamente comuns, demonstrando relações e situações, ora na mais profunda naturalidade, ora tumultuados, como se fosse uma escrachada e caricata tirinha de jornal em movimento.
Em situações eventuais, de figurinos ou edição, já nos explica uma situação e nos faz imaginar (sem vê-la em cena).
Embora a narrativa de crime pareça familiar, ela atua em um desenvolvimento pouco convencional. Com quase 3 horas de duração, pode decepcionar espectadores mais acostumados a um ritmo mais acelerado, que o considerariam lento, arrastado e demasiadamente longo. No entanto, é compreensível. Mas, valeria considerar, se você também for um espectador pouco convencional: mais detalhista, que sabe se controlar da ansiedade e que assiste à mesma projeção mais de uma vez para questionar quadro a quadro ou até mesmo melhorar sua percepção sobre uma obra que pode ser até mesmo detestada exageradamente ou superestimada por um nicho.
Em uma década que também é marcada por filmes que fazem alusões críticas à derrota do sonho americano como a Guerra do Vietnã e ao escândalo de Watergate, o suspense político é transferido para o cenário brasileiro e nos leva a refletir sobre posições do sistema político, a falta de investimento na educação e a briga entre a máquina pública, as corrupções e o controle do corporativismo sobre as estatais. Tudo isso em meio a um clima de ditadura militar que, aqui, é só um cenário representado por algumas referências simbólicas: “- Olha, tem esse quadro na parede aqui, tá? Só para saber que estamos falando desse período, certo?”. Portanto, não é como em Ainda Estou Aqui. É outro carnaval. Só para saber.A campanha se iniciou em maio, no cinema de Cannes. Desde então, o diretor (também pernambucano) Kleber Mendonça, afirma um movimento cada vez mais intenso pelas temporadas de prêmios. A campanha se iniciou em maio, no Festival de Cannes. Desde então, o diretor (também pernambucano), Kleber Mendonça Filho, vem afirmando que o movimento pelas temporadas de prêmios está cada vez mais intenso. |



