quarta-feira, 12 de novembro de 2025

[Sessão Critica] O Agente Secreto

Em um país de misturas, O Agente Secreto celebra a cultura local pernambucana com toques de gêneros clássicos do cinema hollywoodiano.

​Uma das novas promessas do Brasil no cinema internacional e na campanha da corrida rumo às indicações ao Oscar (para sua consideração - FYC). Pela primeira vez na história, o país foi muito bem representado como o vencedor de Melhor Filme Estrangeiro em 2025 e também foi indicado nas categorias principais, Melhor Atriz e Melhor Filme, este último, feito inédito.

​Longa de Kleber Mendonça Filho que já tem em sua filmografia Aquarius e Bacurau, algumas promessas de campanha no Oscar mas que foram frustradas. Com O Agente Secreto, acreditam os especialistas que ele deve sair com pelo menos uma indicação a Melhor Diretor. Vamos ficar esperançosos?

​O título do filme em questão é muito associado ao espião mais famoso do cinema (só de você ler já escuta a música). Automaticamente, essa conexão com o cinema internacional tem uma brincadeira que chega a ponto de nos fazer associar a um filme dentro do filme. Peraí, então é por isso que o título se chama O Agente Secreto? Afinal, o que diabos significa?

​E nessa brincadeira faz de conta, chegamos na identidade do próprio Wagner Moura com duas falas importantes em um momento de tensão e silêncio: “- Você é policial? Tem cara de policial.” Aquela cena de comédia espontânea sem parecer engraçada é o que nos faz sorrir na cadeira. Sim, não é duplo zero, mas é osso duro de roer.

​Em meio a essa “entrevista forçada”, Wagner Moura se nega, mas a gente sabe que é verdade (em algum universo cinematográfico).

​Podemos associar muitas mensagens que podem justificar o título. Mas, do ponto de vista mais sincero, elas não estão intimamente atreladas às identidades do nosso eterno Capitão Nascimento no longa.

​Num misto de suspense, policial e drama, a história se passa em Recife, 1977. As características logo remetem, mais uma vez, ao cinema internacional. O ano ambientado imediatamente reluz, indiretamente, a uma certa Ópera Espacial. Referências aos primórdios do cinema catástrofe e da ficção científica se adaptam ao gênero de investigação com elementos folclóricos. Por vezes, espalhafatosos, fantasia e realidade se misturam nesse conto de ação ambientado num dos períodos mais criativos do cinema. A descrição daquele cinema ali, próximo, anuncia: “King Kong, breve”. Mas não se trata do King Kong, o clássico, mas sim da refilmagem setentista, menos glamorosa e mais sombria, violenta.

​É nesse ambiente que nos convida a referências, entregando misturas, não só culturais como também de gerações, que a trilha sonora internacional afia o acompanhamento natural dos costumes brasileiros em meio ao trajeto nas ruas pernambucanas da cidade.

​No conjunto de cores e tons, há traços humanamente comuns, demonstrando relações e situações, ora na mais profunda naturalidade, ora tumultuados, como se fosse uma escrachada e caricata tirinha de jornal em movimento.

​Em situações eventuais, de figurinos ou edição, já nos explica uma situação e nos faz imaginar (sem vê-la em cena).

​Embora a narrativa de crime pareça familiar, ela atua em um desenvolvimento pouco convencional. Com quase 3 horas de duração, pode decepcionar espectadores mais acostumados a um ritmo mais acelerado, que o considerariam lento, arrastado e demasiadamente longo. No entanto, é compreensível. Mas, valeria considerar, se você também for um espectador pouco convencional: mais detalhista, que sabe se controlar da ansiedade e que assiste à mesma projeção mais de uma vez para questionar quadro a quadro ou até mesmo melhorar sua percepção sobre uma obra que pode ser até mesmo detestada exageradamente ou superestimada por um nicho.

​Em uma década que também é marcada por filmes que fazem alusões críticas à derrota do sonho americano como a Guerra do Vietnã e ao escândalo de Watergate, o suspense político é transferido para o cenário brasileiro e nos leva a refletir sobre posições do sistema político, a falta de investimento na educação e a briga entre a máquina pública, as corrupções e o controle do corporativismo sobre as estatais. Tudo isso em meio a um clima de ditadura militar que, aqui, é só um cenário representado por algumas referências simbólicas: “- Olha, tem esse quadro na parede aqui, tá? Só para saber que estamos falando desse período, certo?”. Portanto, não é como em Ainda Estou Aqui. É outro carnaval. Só para saber.


MOMENTO PÓS-CRÍTICA 

Eu acredito que esse foi o casamento mais interessante para se promover o nosso folclore brasileiro: referências hollywoodianas com lendas urbanas brasileiras. Se o nosso folclore ou cultura local parecia desinteressante para uma audiência moldada pelo mercado internacional, O Agente Secreto encontrou a sua chance de autopromoção.
Se a trilha sonora afia o ritmo, podemos dizer que um participante inusitado invade a trama, em meio a um clima de referências em devoção ao clássico do cinema catástrofe, Tubarão, de Steven Spielberg. O título que marcou como pioneiro sucesso de bilheteria do gênero.


O conto surgiu nos jornais de O Diário de Pernambuco um mês antes do Carnaval de 1976. Em um conjunto de relatos entre jornalistas e ouvintes, apesar de parecer brincadeira, era uma crítica à intensa criminalidade local. Em meio aos protestos contra a ditadura militar, a censura nas notícias ganhava a forma de “Perna Cabeluda”. Na trama, sugere que a Perna Cabeluda estaria envolvida tanto na corrupção quanto na alteração dos fatos do local do crime.

Ter o conhecimento da lenda urbana pode ser um elemento essencial para não deixar o espectador boiando. Assim como assistir a uma adaptação de história em quadrinhos ou de algum livro que deixa algumas lacunas.

Curiosamente, Og Marques Fernandes, o editor do jornal, é hoje membro do Supremo Tribunal Federal.

A lenda foi originalmente criada pelo escritor e jornalista Raimundo Carrero, inspirada em relatos de um amigo próximo.

CINEMA MODERNO

Algumas associações ao cinema contemporâneo podem ser feitas, como a Onde os Fracos Não Têm Vez, que também remete a um clássico do cinema de ficção científica de um certo lendário diretor rei do mundo. Além de Maria Fernanda Cândido, uma das grandes surpresas no elenco é Gabriel Leone (Senna) interpretando um vilão frio e de poucas falas — lembrou T-1000? Sem dúvida, O Exterminador do Futuro moldou uma geração de assassinos icônicos no cinema.

TRÊS IDENTIDADES?

Com base na experiência de Wagner Moura, já podemos ter uma noção de sua atuação. Caso você o tenha acompanhado em outras produções, poderá reconhecer trejeitos e fazer uma comparação (como a piscadinha inconsistente quando ele está nervoso/ reflexivo, por exemplo), mas há algumas expressões surpreendentemente novas para quem só assistiu Tropa de Elite, demonstrando um lado suavemente mais galanteador ou mais delicado. Isso pode gerar estranheza nas coincidências, como o fato de ele atuar como pai e filho, da mesma forma que houve a referência entre mãe e filha no mesmo papel em Ainda Estou Aqui. Seriam clichês já montados para filmes nacionais contados para ir ao Oscar?
Mas Wagner Moura prova ser um ator multifacetado, uma qualidade única entre grandes talentos nacionais.

CORRIDA PELO OSCAR

A campanha se iniciou em maio, no cinema de Cannes. Desde então, o diretor (também pernambucano) Kleber Mendonça, afirma um movimento cada vez mais intenso pelas temporadas de prêmios. A campanha se iniciou em maio, no Festival de Cannes. Desde então, o diretor (também pernambucano), Kleber Mendonça Filho, vem afirmando que o movimento pelas temporadas de prêmios está cada vez mais intenso.


MEMORIAS DA SESSÃO 

QUEM É O AGENTE SECRETO?

Perna Cabeluda é como o zumbi brasileiro. Aquele agente que nunca morre porque sempre volta causando prejuízos diferentes. Precisamos estar preparados para o problema.

Apesar da turbulência do fim de semana — o roubo de cabos na região deixou toda a vizinhança sem internet (e ninguém soube quem foi o agente secreto). O provedor reconheceu que a manutenção foi mal sucedida, e acabei passando o domingo sem internet, tendo que ligar para a central novamente, tentando marcar para o mesmo dia.

Houve um rolo no atendimento, pois a atendente afirmou com todas as palavras que podia ser no mesmo dia. Mas na programação, me marcaram para a manhã de segunda (quando era para ser à tarde). Quando eu vi o horário no contato, e a data, liguei novamente solicitando para o mesmo dia e o atendente me disse que não era possível porque já havia acabado as vagas e só podia na segunda. Então, apesar do prejuízo que iria me causar, confirmei para a parte da tarde. No fim, deu tudo certo.

Mas, na terça, sou surpreendido por outro problema, assim que cheguei em casa. A Perna Cabeluda está à solta. Ela não desiste de me surpreender.
E, após o conserto da internet e de eu perder um dia de produtividade, terça à tarde sou surpreendido com falta de luz. Alguém desligou o disjuntor, e ficou um "papo" de jogar a culpa do desarme para mim, o que não fazia sentido, já que eu não tinha quase nada ligado em casa. Mas, no fim, foi resolvido.

Mas, voltando ao domingo, apesar de todos esses problemas causados pela Perna Cabeluda, que bagunçou meus cabos de internet e o disjuntor de luz, fomos para o que realmente importa: uma rápida ida e volta de carro para assistir O Agente Secreto.

Optei pelos assentos da frente, a fim de evitar telas brilhantes e inconvenientes. Fui surpreendido com a presença de algumas adolescentes na sessão. Justamente por se tratar de um filme não tão cinemão (afinal, apesar do Wagner Moura, são quase 3 horas de duração e com temas brasileiros e históricos), mas ainda assim a audiência teve um bom comportamento. 

E o cinema respeitou o fim dos créditos, sem ligar as luzes durante eles (o que para um cinema de shopping é algo raro).



 SESSÃO CRÍTICA 
O AGENTE SECRETO

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