domingo, 28 de abril de 2019

[Sessão Crítica] Vingadores: Ultimato e uma reflexão sobre o Universo Cinematográfico Marvel (UCM)

O TEMPO LHE FEZ BEM



Para uma criança que acompanhou a primeira fase, lá em 2008 (com Homem de Ferro e O Incrível Hulk) com seus 10 anos, hoje - com seus 21 anos - pôde testemunhar uma experiência única, não apenas de uma cinessérie mas do maior evento cinematográfico já existente dos últimos anos.

Sempre pareceu imaginativo aqueles arcos nos quadrinhos (obras de origem) mas ainda não havia ninguém com a ideia maluca de transferir essa realidade para o cinema e transformá-lo num universo compartilhado. Na lógica, poderia ser a Warner/ DC - por serem os pioneiros nos quadrinhos e os primeiros a adaptarem super-heróis bem sucedidos no cinema - até que surgiu a Marvel Studios. Com o sucesso de outros heróis Marvel implantados na telona, a Marvel Studios embarcou com ingredientes já conhecidos e bem aceitos.

O drama e o humor bem dosado em Homem-Aranha lá em 2002 com a Sony Pictures arrebatou bilheterias e lotou salas inteiras - o super-herói já era bem conhecido na cultura pop e o cinema só o alavancou ao ponto ainda mais alto da popularidade. E por que não fazer isso com um personagem obscuro para o público tradicional ? Entre muitos nomes, eis que surge Robert Downey Jr. e o seu Invencível Homem de Ferro. A química de bons atores e ritmo já encomendou o grande primeiro sucesso da Marvel Studios - agora, a empresa de quadrinhos que atuava em sua divisão no cinema.

A Marvel Studios, que era distinta da Sony e mais algumas outras empresas, realizava com a Paramount* (entre 2008 e 2011) a sua cinessérie própria com os personagens e condições que podia - dentro dos seus direitos no cinema - tendo que se limitar a desenvolver no sapatinho  uma trama que pudesse encaixar seus super-heróis os quais tinha direito depois da sua venda, em 1996, para se livrar de uma arriscada crise iminente nos quadrinhos e nos demais negócios a ponto de levá-la a falência.

A junção com a Disney, inclusive, em 31 de Agosto de 2009, garantiu a Marvel Studios um futuro ainda mais amplo no foco comercial. Comprada agora por uma empresa tradicional e veterana entre gerações, a Marvel Studios continuou mantendo o desenvolvimento maduro de seu universo cinematográfico. *Nota: Em 2012, se finalizava o processo de transferência e a produtora de filmes passou a ter seus filmes distribuídos pela Walt Disney Pictures.

Se já havia o molde padrão, que conseguia transformar diretores medianos em bons diretores (Joe Johnston em Capitão América: O Primeiro Vingador) e atores cômicos e românticos em super-heróis dramáticos (Chris Evans como o próprio Capitão América) - no campo externo, a maior diferença notável é a filosofia com que a empresa Disney supervisiona toda a produção - a busca veemente em defender comportamentos exemplares aos interesses comerciais.

É interessante também o metódico trabalho em conjunto, entre Marvel e Disney, para formar o elenco de acordo com a personalidade de cada personagem. Todos, ou em algum momento, demonstram fortemente uma personalidade de seus personagens. Portanto, é difícil ver algum deles substituído por outro - até o Máquina de Combate, ainda que Don Cheadle seja bom ator, foi o primeiro a trazer esse sentimento estranho de mudança (fica sempre na mente como Terrence Howard atuaria).  Ou também outro principal personagem com ator mudado: O Incrível Hulk - de Edward Norton para Mark Ruffalo. Essas mudanças, principalmente o de Hulk, certamente alteraram a linha de tempo da cinessérie - elementos que ocorreriam já não aconteceriam mais, possivelmente. Embora as mudanças tenham agradado melhor com o tempo. Tais trocas certamente vieram de interesse da Marvel Studios, por acreditarem que o total controle de suas obras seja mais importante a fim de evitar conflitos de egos nos bastidores. Optaram por uma elenco facilmente conduzido e com espírito de equipe.

Se ganha de um perde-se de outra - o controle criativo do diretor Kenneth Branagh para o primeiro Thor o afastou para sempre do UCM. Logo as divergências surgiram no futuro e, para evitar clima tenso, mais um grande nome cortado. Porém, Thor retomou um fôlego novo em Thor: Ragnarok.

Nessa montagem cuidadosa em escalar atores para respectivos papeis, a gente vê que Robert Downey Jr. é o tipo sem papas na língua, que Tom Holland é falastrão e que Brie Larson é uma defensora ferrenha pelo direito das mulheres. Vemos Robert em Tony Stark numa das características que causa a impressão do seu personagem ser arrogante - porém, heroico e inteligente (vale consagrar o ator como um exemplo por sua libertação do alcoolismo e da sua decadência profissional nas telas). Vemos Holland em Peter Parker - pelo seu jeito todo descolado e tiradas inesperadas (inclusive, é marcado por suas revelações de roteiro dos filmes em que participa). E vemos Brie Larson em Capitã Marvel - uma super-heroína considerada a primeira empreitada feminista para o universo Marvel nos quadrinhos - nesse ponto, ver a atriz correspondendo ao Chris "Thor" Hemsworth como a "primeira eu", ao ser comparada a Tom Cruise (cá pra nós, um verdadeiro mestre em gravar cenas de ação sem dublê) como uma característica própria de sua própria personagem que encarna - durona na sua defesa mas também dócil em lidar com os fãs. Assim como Capitã Marvel, Larson luta contra desafetos e defende os que amam.

Cada peça montada no quebra cabeça foi importante para a construção desse mega evento cinematográfico.   Dos atores às variações de tramas desenvolvidas. Depois da primeira fase, houveram seus altos e baixos, característicos de toda grande saga, mas sempre com boa recepção de público e crítica.

Enfim, aparentemente, depois de algumas trocas de elenco na primeira fase, percebe-se que mudar em time que está ganhando é arriscado - James Gunn foi demitido da Marvel Studios por declarações polêmicas no passado, apesar do seu trabalho bem sucedido com os também desconhecidos Guardiões da Galáxia - e recontratado depois de muito apelo do elenco e reflexão pesada sobre a situação. Essa busca da produtora em ser conservador com o seu processo de desenvolvimento nos mostra, aparentemente, que se um ator sai, o seu personagem pode não voltar nunca mais (ou não da forma esperada - em Homem de Ferro 2 há uma brincadeira indireta com a mudança de Terrence para Cheadle no próprio filme). 


Numa tonalidade mais escura e consideravelmente menos barulhento, diferente do ritmo frenético de Guerra Infinita, Vingadores: Ultimato mergulha ainda mais a fundo no drama emocional dos personagens. A forma dinâmica bem conhecida nos filmes anteriores é radicalmente repaginada aqui para se focar numa busca pessoal em favor da perda e pela honra da superequipe.

Os protagonistas engrandecem nessa dinâmica diferente encaixando a parte da peça que faltava ao anterior - ainda que sejam longas propositalmente muito diferentes. Como o primeiro filme de super-herói de 3 horas e 2 minutos, é corajoso por procurar mostrar, acima de tudo, honestidade com o público. Mas é sentido também a vontade de deixar brechas (que tornam o entendimento confuso) para que algo seja melhor explicado lá na frente.

A construção de um amadurecimento mais sóbrio, colocando os personagens fincados na realidade dos tempos modernos, já vinha sendo trabalhado com Homem de Ferro lá em 2008 (nesse tempo, a grande comparação de tom ficou com Batman Begins da rival Warner/ DC). A atualização visual dos personagens acaba por se basear nos caminhos da então recente série em quadrinhos Marvel Ultimate.

Com consideráveis mudanças em combinação com o progresso do grande evento, Vingadores: Ultimato se afirma então para a quê veio - trazendo boas referências bandeirosas de tirar o chapéu dos amantes de super-heróis e fieis acompanhantes do Universo Cinematográfico Marvel como também trazendo o seu brilho próprio com ótima e ousada direção dos irmãos Russo, excelentes atuações e presenças que, mesmo nos seus breves momentos, são marcantes e inesquecíveis.

O que faz o UCM a diferença que vira inspiração é como ela procurou percorrer o caminho para se encerrar um ciclo. Seu trabalho manifestou a celebração descontrolada de toda uma nova era da cultura pop - veste camisa de super-herói até quem nunca se imaginou ser da tribo (ou os próprios leitores de quadrinhos imaginariam). A Marvel Studios soube usar o tempo a seu favor, e isso favorece tanto no envolvimento como na emoção final de Vingadores: Ultimato.

ATENÇÃO: Fiquem até depois dos créditos. 

MEMÓRIAS DA SESSÃO

Os dias tem sido bem agitados a ponto de quase me convencer de que teria sido uma boa se Thanos estalasse os dedos. Me preparei o ano todo por esse dia, mas tive que fugir das redes sociais a fim de ser desagradado por revelações irresponsáveis sobre o filme.

Consegui chegar cedo ao cinema mas com um lunático - junto de sua esposa - discutindo com uma atendente por mais de 20 minutos, desisti de pegar meu poster UCI Unique do filme. Estava quase na hora de entrar. Mas no meio da fila já tinha uns adolescentes comentando detalhes da trama e eu aproveitei para pegar meu fone de ouvido e ligar no último volume - ouvindo Mark Marky & The Funky Bunch (Mark Wahlberg no auge de sua carreira musical antes de se consagrar ator). 

Antes disso, ainda tive que ouvir a primeira tentativa (ou ameaça terrorista) de spoiler dentro de uma cantina próximo a entrada da sessão por ali - com base de uma das crianças ali sentadas com a mãe e as tias (um moleque branco e gordo). Só olhei atravessado para a direção. Depois veio outro saindo do cinema realmente dando AQUELE spoiler pra explicar ao filho (com aquela cara de bunda palerma e nariz empinado). Voltei a olhar atravessado para a direção contrária. Decidi sair da cantina e da bilheteria do cinema e fui ao banheiro, quando então vieram uns moleques com os seus 20 e poucos anos de idade indo pela mesma direção, à frente, começando a contar spoilers. Eu sai dali também. O mundo estava LOUCO. Como é difícil assistir a esse tipo de filme hoje com uma experiência única. É como se sentir prisioneiro de sua própria realidade - da mesma forma que as pessoas te moldam pra ser aquele tipo de pessoa, diferente disso é uma carta fora do baralho. Cada vez mais é compreensível ao encontrar matérias - mesmo que seja armação - de loucos que comparam todas as cadeiras de determinada sessão para assistir tal filme muito esperado ou muito popular.

E como se isso não fosse o suficiente, tive que aturar no próprio ambiente de trabalho - um dia antes da sessão - um nerd comentando em voz alta sobre a amiga do WhatsApp que lhe deu spoiler. Antes que ele contasse, sai do posto e fui dar uma volta por quase 1 hora. Ser pobre e trabalhar em ambiente com nerds é complicado, por isso. Se fosse uma redação aonde todos estariam ali trabalhando para assistir filmes no cinema antes da estréia, seria mais fácil. Quando terei essa fantástica oportunidade ?

Como de costume, luzes ligadas pelo UCI Parkshopping depois de subir os créditos (falta de cortesia) - várias pessoas já se preparavam pra sair da sala, aparentemente já devem ter sacado como tudo terminaria. Mas muitos corajosos ali ficaram para comprovar - estes são os verdadeiros Vingadores - ficando até a última linha dos créditos para comprovar se as coisas terminavam ali mesmo (ou se depararia com alguma frase ou um som característico). 

Voltando da Sessão, vou até a bilheteria para tentar arrumar o poster. Infelizmente, foram todos dizimados (o cara mal me atende e já faz sinal de "encerrado" com os braços) - e eu vi com os meus olhos umas duas pessoas levando posters antes da sessão. Um final triste pra guardar na minha coleção. 

SESSÃO CRÍTICA
VINGADORES: ULTIMATO
Sessão Acompanhada:  UCI Parkshopping - 15:40 - P 19 - 27/04/2019 (Sábado)
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