sábado, 19 de julho de 2025

[Sessão Crítica Edição Especial] S U P E R M A N (2025): Análise, Curiosidades & Revelações

Inicialmente intitulado Superman Legacy, este simpático reinício é um amálgama das melhores reencarnações do personagem com um toque Marvel em seus elementos. James Gunn, conhecido por Guardiões da Galáxia, assume o posto de grande chefão da mais nova DC Studios. Vindo da rival (Disney/Marvel) com plenos poderes e o rosto do marketing — a exemplo de Kevin Feige, seu antigo patrão na "eterna casa das ideias" —, Gunn lança sua primeira projeção do cinema, abrindo portas para um novo tipo de universo estendido da DC. Esse universo, antes iniciado com Zack Snyder, teve aparentemente sutis conselhos de Christopher Nolan para o Homem de Aço em 2013.

Homem de Aço, sem sequer usar o nome "Superman", buscava reimaginar o herói em um mundo mais crível e real. Focado em referências a invasões alienígenas dos clássicos dos anos 50 — fontes primárias da ficção científica que inspiraram até mesmo o icônico Ultraman japonês —, o filme apresentava meta-humanos se tornando heróis. Contudo, essa releitura, embora ousada, distanciava-se do valor emocional original do personagem. O clima sombrio, herdado de O Cavaleiro das Trevas, influenciou a narrativa de Snyder a ponto de tornar Superman não o oposto, mas uma semelhança do próprio Batman. Henry Cavill, de fato, parecia um "Batman" com superpoderes vestindo o uniforme do Superman. O próprio ator, a princípio, não concordava com essa abordagem, mas a aceitou com a promessa de um dia interpretar o Superman clássico, o que, infelizmente, nunca aconteceu. Diante disso, apagar e reiniciar tudo foi, sem dúvida, a melhor decisão.


O Novo Raio de Esperança da DC

Superman (2025) é a melhor reencarnação do "azulão" nas telonas desde o subestimado Superman: O Retorno (2006). Ele respeita a figura clássica do super-herói com encanto, apresenta um ótimo elenco e boas atuações em um cenário diversificado. Cheio de referências para fãs de longa data apreciarem (e discutirem na internet), o filme é ágil, construindo uma origem moderna e transgressora. Ele não trata o público como um espectador de primeira viagem, demonstrando que aquele mundo fantástico já está amadurecido e é a visão mais normal possível — uma adaptação fantástica dos quadrinhos, a mais crível possível sem, necessariamente, parecer uma paródia, mas sim amigável para o espectador de fora. Ainda que se tenha algumas alusões, como uma senhora carregando um aquário com tartarugas (rapidamente, os fãs das Tartarugas Ninjas irão associar a brincadeira).

Gunn já expressa aqui sua habilidade em conduzir uma trama lotada de referências e personagens sem inchar ou cansar os mais atentos e apreciadores de uma boa aventura. Com ação, impacto narrativo e aquela fórmula descontraída e transloucada, o filme promete se conter nesse tipo de aventura que exige mais emoção do que humor. Os coadjuvantes são descolados e muito bem trabalhados, como a Mulher-Gavião (Isabela Merced), o Lanterna Verde, Guy Gardner (Nathan Fillon), e o Sr. Incrível (Edi Gathegi).

Curiosamente, Nicholas Hoult, o mais bem pago do elenco, foi cotado para ser o personagem-título, perdendo para David Corenswet na audição. Como Lex Luthor, Hoult impressiona e cria uma encarnação bastante agressiva e enérgica do grande vilão e arqui-inimigo do Superman (interpretado por Corenswet).


O Toque Marvel e a Gentileza do Herói

Superman é um filme DC com cara de Marvel, e isso se torna um bom motivo quando falamos da ideia de popularizar a gentileza. A busca incondicional e voluntária de fazer o bem — algo que se perdeu a partir dos anos 70, sendo ofuscado pela popularização de estereótipos ou temáticas de terror e do grunge — é um ponto central. Essa abordagem diluiu a visão do herói tradicional. No entanto, uma sacada esperta do longa é que pessoas gentis podem, sim, curtir um punk rock. Isso também responde ao tom sombrio de Homem de Aço, considerando que o Superman não precisa ser um personagem linear, ainda que sobrevoe por montanhas pouco usuais.


ATENÇÃO: FIQUEM DURANTE E APÓS OS CRÉDITOS


    SUPER CURIOSIDADES   


MEMÓRIA PÓS-CRÍTICA



                    ALERTA DE SPOILERS                 

             ATENÇÃO:             

             AS NOTAS ABAIXO           

     TERÃO REVELAÇÕES DA TRAMA    


GUERRA ENTRE PAÍSES


A metáfora do conflito entre Boravia e Jarhanpur nos apresenta, de forma clara, uma alusão à situação política que testemunhamos no mundo: a eterna briga entre Israel e Palestina.

No entanto, as localizações são fictícias. Boravia é mencionada durante a Era de Ouro, em Superman nº 2 (setembro de 1939). A edição chegou ao Brasil pela rara série de revistas O Lobinho, nº 8 (novembro de 1940), publicada pelo Grande Consórcio Suplementos Nacionais — uma editora independente fundada por Adolfo Aizen em 1934, que trouxe grandes nomes das histórias em quadrinhos internacionais com o objetivo de concorrer com as editoras dominantes da época.


Boravia, país europeu, é apresentado num ambiente de guerra civil enquanto Jarhanpur, um país do oriente médio, teve sua primeira aparição em 2002, na edição Liga da Justiça nº5, abril de 2003, pela Panini (Justice League of America (1997), nº62, março de 2002, lá fora).




Homem de Aço (2013) x Superman (2025) 

🟥DERROTAS DO SUPERMAN

Nas redes sociais, criticou-se muito que o Superman de 2025 apanha demais. Pois bem, mesmo em Homem de Aço, o Superman de Henry Cavill sofre vários golpes nas mãos de Zod (Michael Shannon). Mas, muito antes de A Morte do Superman (1992), o próprio Homem de Aço, enquanto Super-Homem na Era de Prata, já havia passado por maus bocados — como em Superman nº 149 (1939) e na Era de Ouro (publicado aqui pela Coleção Invictus nº 17, em 1995) — onde foi derrotado por Lex Luthor.

Mesmo sendo uma história alternativa, ela se passava em sua fase mais poderosa, em termos de força e agilidade, capaz até de girar o planeta (como no Superman: O Filme). Isso antes da reformulação de John Byrne, que influenciou encarnações posteriores: um Superman mais crível, que sangra, se queima, resistente, mas menos poderoso.


Outra grande e icônica antagonista do Superman, a kryptonita, também marca presença no longa de 2025, trazendo consequências desastrosas para este Homem de Aço, que ainda carrega a inexperiência de um Superboy. A exposição à substância chega a deformar seu corpo e contaminar até mesmo veias, que escurecem — uma adição assustadora, marcada por efeitos profundos e de recuperação lenta, revelando mais da vulnerabilidade física nesta releitura do herói.




🟥 O REINO DO SUPERMAN:
A ORIGEM QUE NINGUÉM CONTA


Diferente do que normalmente se vê em reencarnações anteriores — com o herói enviado à Terra para salvá-la — a revelação em Superman (2025) sobre os pais biológicos de Clark (ou Kal-El) se aproxima de uma realidade cada vez mais presente na nossa sociedade: famílias desestruturadas, com figuras narcisistas e frias, bem longe do modelo tradicional, idealizado, de uma família unida ao redor da mesa de jantar discutindo o dia com alegria e harmonia.

O novo filme propõe uma crítica que incomoda o patriarcado e ideias mais conservadoras, ao mesmo tempo em que reforça a busca por um Superman mais humano. Ele se mostra próximo da humanidade — o herói que o mundo precisa, mas talvez não o que ela mereça neste momento — já que sua mensagem de gentileza e bondade parece ser cada vez menos compreendida a cada geração.

Essa reformulação era necessária. Precisávamos parar para refletir por que o Superman é tão mal interpretado. Um personagem que só quer fazer o bem, sem esperar nada em troca, acaba se tornando difícil de adaptar nos dias atuais — sua voz pode ser ouvida, sentida, mas raramente escutada ou compreendida, geralmente abafada pelos ruídos de uma sociedade doente, marcada pelo estresse e surtos de ansiedade. Isso reflete facilmente numa era audiovisual onde tudo precisa ser cinza, sombrio, cínico ou hiper-realista. Para que ele funcione hoje, é preciso aproximá-lo do público, não apenas com efeitos ou lutas, mas com humanidade.


❌ Onde o Homem de Aço começou a falhar

A desconstrução já estava presente em Homem de Aço (2013), mas começou a falhar logo em seu início. O erro não foi Clark se recusar a salvar Jonathan Kent (Kevin Costner), mas sim Jor-El (Russell Crowe) ser assassinado por Zod — mais uma vez caímos na armadilha do “pai morto pelo vilão”. Mais um Batman? 

Já vimos isso incontáveis vezes. Ainda que a história não seja sobre vingança, o público a recebe como tal, com o ápice sendo o momento em que Superman mata Zod.
Mas essa nunca foi a filosofia do personagem. Mesmo enfrentando inimigos iguais ou superiores, ele sempre procurou outra saída.


🧬 Quando os pais se tornam vilões

A proposta de colocar os pais de Superman como figuras falhas, egoístas ou até vilanescas, quebra a narrativa linear que já foi contada antes — e contada de forma brilhante, diga-se, na era Christopher Reeve.
Mas essa quebra é necessária para renovar o mito. Caso contrário, tudo seria apenas uma repetição nostálgica, sem relevância para o presente.


📜 A origem esquecida: O Superman do mal

E vale lembrar: a primeira versão de Superman, lançada em 1933 por Jerry Siegel e Joe Shuster na história The Reign of the Superman, apresentava o personagem como um vilão careca, com poderes mentais e desejos de dominação mundial.
Sim, o Superman original era um tirano, e não um herói.

Muitos hoje apenas repetem conteúdos sem se aprofundar — “robôs” da internet que gravam vídeos sem ler o material original. Mas quem conhece essa origem sabe que James Gunn foi fundo nas raízes do personagem, explorando justamente essa versão rejeitada, sombria, de um Superman que cede à vaidade, ao controle de seu "pai", o cientista, e torna-se uma figura autoritária.


☀️ A redenção

A grande sacada do novo filme é que, mesmo com essa carga sombria, ele ainda parte do mesmo princípio que tornou Superman o primeiro super-herói da história: sua fé no bem.
É dessa ideia original — de alguém que tem poder para esmagar, mas escolhe levantar — que nasce o verdadeiro Superman. O personagem que, décadas depois, abriria as portas da Era de Ouro dos quadrinhos.

Jerry Siegel, o “Jor-El da vida real”, primeiro concebeu esse Superman como um vilão, subvertendo o conceito de heróis. Depois, mudou de ideia e nos deu o campeão da justiça e da esperança. O visual careca daquele primeiro Superman acabou reaproveitado em outro personagem: Lex Luthor. A arrogância virou ambição. Os poderes se transformaram em inteligência.

Se pensarmos em James Gunn como o “novo Jor-El” — e é curioso que ele tenha confiado esse papel justamente a Bradley Cooper, seu velho camarada guaxinim dos Guardiões da Galáxia —, percebemos que ele também compreende bem essa transição entre o Superman tirano e o salvador. Assim como Siegel, ele reescreve o destino de seu “filho” para algo mais inspirador.

Afinal, todo grande pai deseja que seu filho seja melhor que ele — e Gunn, assim como Siegel, escolhe fazer isso com o personagem que nos ensinou que ser bom é uma escolha... e também uma revolução.


                    FIM DOS SPOILERS                 


SESSÃO CRÍTICA
SUPERMAN

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