quarta-feira, 29 de março de 2017

[Sessão Crítica] T2 Trainspotting: A continuação de uma cultuada aventura dos anos 90



Trainspotting: Sem Limites arrebatou elogios da crítica especializada e cinéfilos, entrando para o hall dos filmes independentes bem sucedidos desde Pulp Fiction: Tempo de Violência. Mas é mais um daqueles rubis que conquistam e desaparecem das nossas vidas. Como um dos melhores filmes de 1995, o longa é dirigido por ninguém mais e ninguém menos do que Danny Boyle, recentemente oscarizado por Quem Quer Ser Milionário? (2013). O então estreante da cadeira de diretor,  adere duas características bem familiares adotadas daquela década:  jovens e crime. Elementos que o trouxeram ao estrelato com o ótimo suspense Cova Rasa (1994). Agora o tema vai mais a fundo e mergulha os seus ‘novos jovens’ em uma aventura no mundo das drogas, de uma forma criativa e quase psicodélica.

1 década após a obra lançar o jovem ‘Obi-Wan Kenobi’ Ewan McGregor  e “um certo vilão de 007” Robert Caryle ao estrelato,  Danny Boyle (agora não mais estreante, mas sim um diretor reconhecido) lança a bomba. Ele anuncia então os planos para adaptar “Pornô”, a continuação de Trainspotting – o romance original escrito por Irvine Welsh. Mas, genial como todo diretor cultuado, diz que só pretende filmar quando todo o elenco envelhecer mais um pouco. E ele aguardou, junto ao grupo. O resultado é um encaixe perfeito entre a passagem dos 20 anos (proposto pelo filme) para criar um contraste nítido entre as gerações (dos 20 e poucos, cheio de gás e energia numa vida sem responsabilidades, aos 40, chegando a um ponto de aterrissagem ainda mais macabro). Para quem não assistiu ao primeiro longa – quando Ewan nem era mega famoso (após Star Wars) – vai obter entendimento de qualquer forma.

O gostoso embalo da nostalgia, buscado com muita sensibilidade – principalmente em cenas crucias de Mark Renton (McGregor) – é apenas um ponto do lado emocional do filme, que procura, de alguma forma, retratar a difícil relação familiar entre velhos amigos, envolvendo traição e redenção, de alguma forma.

A violência ou a dependência pelas drogas não são o foco, ainda que a prostituição também seja um outro ponto adicional na temática. A sensação do psicodélico é levemente substituído pelo jeitão meio caricato – em alguns casos, como uma corrida de cão e gato. A cada vez que se aproxima do fim, cria-se um suspense aonde prezamos pela vida dos personagens – um envolvimento que se preenche de acordo com as transformações em relação a primeira aventura. 

A trilha mantém o ritmo versátil mas é pouco aproveitada. O jogo de corte rápido nas tomadas procura rebuscar aqueles elementos criativos encontrados no enredo profundo do primeiro longa – aonde Renton se vê em um labirinto para ultrapassar e seguir no jogo – estes tais ‘códigos de acesso’ são mais ou menos revividos como parte de plano de fundo na relação entre alguns personagens deslocados, tentando encontrar um lugar neste novo mundo.


20 anos, 1995, poderia  ser ontem, mas o impacto da tecnologia em comparação a esses anti-heróis analógicos o tornaram defasados –  os entusiastas sentirão o peso do tempo que passou, como os 20 anos de hoje continuam pesando  da mesma forma que os 20 anos que os jovens (ou adolescentes) sentiram naquela época ao se depararem com algum tipo de obra setentista: considerariam obras ‘jurassicas’ assim como os jovens de hoje em dia considerariam algo dos anos 90. Os truques que um dia eram ‘marotos’, hoje são velhos truques ultrapassados pela segurança da informação. É um ciclo natural das gerações em que ‘antiguidades humanas’ são passadas para trás.


A história, que agora segue por um outro rumo, ainda impressiona ao acrescentar novos personagens nesse trajeto,  encarnados por Scot Grenan (Frank Juror) e Angela Nedyalkova (Veronika). Mas o maior destaque vai para o verano Caryle (Begbie), terrivelmente genial. Não é tão louco quanto o primeiro longa ou tampouco ousado mas garante bom entretenimento, principalmente para os apaixonados por Trainspotting.  


Memórias da Sessão
Assim como o filme me remeteu a nostalgia, me senti voltando no tempo ao retornar a cadeira da sessões de um cinema de rua. Senti  um contraste absurdo ao ver que agora o cinema Severiano Ribeiro (Cine Odeon) é do grande Kinoplex – empresa que possui redes de cinema nos shoppings. 
Do analógico para o digital, agora não vejo mais aqueles saudosos pontos e riscos pretos na tela. O cinema de rua virou um luxo, apesar de quase extinto.

Era uma bela noite de sexta no centro da cidade. Como eu não estava em um shopping, aproveitei o tempo passeando pela rua – pensando se ocupo ou não o tempo até a abertura da porta comendo um lanche no Burguer King ou se economizava dinheiro (a última opção era a mais válida).

E nas passagens, me deparo com um temático Teatro Riachuelo (antigo Odeon) para a atração de curta temporada: Vamp, O Musical. De um lado, Claudia Ohana de close na fotografia da porta de vidro automática e do outro, Ney Latorraca. E por dentro, colaboradores fantasiados, recebendo os espectadores – algumas barraquinhas com frascos borbulhantes e elementos do tipo. Logo na entrada, um vídeo apresentando o Making of da peça adaptada da icônica novela dos anos 90.

Eu me recordo, naquela noite de 1991, acordei – na escuridão - e não havia ninguém em casa. Olhei, já eram 19:05, corri pra ligar a TV, já estava começando a novela Vamp. Não perdia um episódio.  Acompanhei muita novela nessa década.

E naquela noite, eu testemunharia uma nova aventura de um dos meus filmes favoritos dos anos 90. Ah, e como eu sempre frisei na postagem, a nostalgia é um ponto forte no filme. Saudades eu tenho dessa década e como tenho – principalmente de 95, 94, 93, 92 e 91 - 1990 também foi legal, mas passei maus bocados, mas não pior que 96 – embora este tenha os seus ótimos momentos (conhecer algumas máquinas novas  e originais de fliper – raríssimos hoje em dia).

Assim que estávamos para entrar na sessão, uma moça de óculos, olhos miúdos e corpo robusto, saía dizendo alucinada: “-Euuu amoo o Ewan McGregor !!” saía emocionada como se ela o tivesse visto de verdade ali. Uma coisa muito louca. 

Na espera da sessão, observei a presença de jovens com os seus visuais modernos – de universitários pançudos com barbona pra fazer a moças de cabelo colorido com aquela cara de “ - Esses aí curtem discutir umas coisas bem filosóficas ! ”.

Antigamente, o cinema já ficava no escuro desde os trailers até o fim – realmente eu não sei aonde está a postura desses cinemas para as coisas mudarem assim. Porém, as luzes ficaram harmoniosas no ambiente ao invés de ficarem ligadas de uma forma que chega a incomodar os olhos enquanto o trailer está passando, a ponto de ter que forçar o povo a pedir pra desligar a luz e não serem atendidos até começar o filme – algo que ocorre muito em cinemas de grande circuito (vide: shoppings).  Essas luzes ficavam ligadas ao fundo, frente às luzes das porta de emergência. O atendimento foi Classe A (tivemos excelente recepção do despachante) diferente da recepção durante o atendimento (ao comprar o ingresso) que me pareceu fria – a atendente quase que puxou o dinheiro da minha mão depois que levei um tempo pra pegar (ou foi só impressão minha). Mas não tinha necessidade para tamanha ‘brutalidade’ (caso isso tenha acontecido), fora que só eu estava lá comprando mas, ainda assim, não havia justificativa.

Um destaque muito legal (e bastante especial) é que o Kinoplex (em parceria com o Cine Odeon) caprichou na estrutura desse cinema de rua. Algo que me recorda bastante a minha mãe, quando comentou que ela chegou a ir a um cinema aonde podia-se olhar efeitos de estrelas no teto. Anos depois, o cinema virou um banco.

A cereja do bolo vem numa apresentação especial que eu nunca vi em nenhuma das redes regulares de shopping. Enquanto uma apresentação musical  animada se encerrava, as luzes se apagavam de acordo com a música. Achei aquilo genial e fiquei rindo à toa. Muito mágico. Era, de repente, o gostinho do cinema 4D vindo pro RJ – aonde o cinema interage com o público  (e isso deve acontecer muito em breve na rede UCI NYC). E o posicionamento das cadeiras com a tela é excelente - ninguém fica atrapalhando ninguém com a cabeça porque a tela fica bem no alto, acima de um palco.

A interação do público com o filme foi levemente tímida. Um jovem há algumas cadeiras a esquerda ria de determinadas situações que também ri a beça. Além de jovens cinéfilos, também teve pessoas de idade. Inclusive, esses cinéfilos de mais idade são os que eu mais me identifico. Um deles ficou até o final – e mais um casal de idade bem mais a frente.

Eu diria que sou um jovem cinéfilo (embora nem tão jovem assim, mas ainda jovem, felizmente. E espero continuar assim. Deus quer. Hehe!) com a mente de idoso – que adora apreciar a música de encerramento do filme mesmo que não tenha nada me esperando no final.


SESSÃO CRÍTICA 
T2 - TRAINSPOTING
Gênero: Drama
Sessão Acompanhada: Cine Odeon - Centro Cultural Severiano Ribeiro - 20:50 - 24/03/17 (Sexta-Feira )
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