quinta-feira, 30 de março de 2017

[Sessão Crítica] Power Rangers: Aos Olhos de Hollywood



Aqueles que um dia se chamavam ‘Super-Heróis Japoneses da Rede Manchete’ fizeram escola, desde que saíram das locadoras para as telas da extinta emissora de Adolpho Block (1907 - 1995). Mais tarde, passamos a conhecê-los como parte do gênero Tokusatsu (termo em japonês que classifica esses tipos de seriados da família Jaspion, Changeman e cia.) graças às saudosas revistas Herói.

Ainda que de uma geração muito próxima, Power Rangers se classifica como parte das atrações de uma segunda geração que estava por vir. O seriado surgiu em 1993, mas só estreou no Brasil em 95, acompanhando a galera dos Cavaleiros do Zodíaco.  Cavaleiros transcendeu a geração dos seriados japoneses para um outro nível da cultura pop – trama que explora melhor o drama dos personagens de uma forma ainda mais profunda. Além de serem jovens, aqueles novos heróis possuíam outras características que justificavam perfeitamente uma aproximação muito maior das motivações do espectador.

Enquanto o poder da cultura pop japonesa começava a mostrar as suas garrar com algumas polêmicas – com o lançamento do longa metragem Akira nos cinemas Brasileiros em 1992 – um certo bilionário egípcio (considerado a 102ª pessoa mais rica dos EUA, segundo a Forbes), o empresário Haim Saban, já estava movendo as suas mangas para realizar os seus próprios Super-Heróis Japoneses (Americanos ) com o seriado Power Rangers, adaptação da versão japonesa Hyakujuu Sentai Goranger (os pioneiros entre os seriados de superequipe - chamados Super Sentai). Inclusive, com a mesma atriz (Machiko Soga) intérprete da megavilã Rita Repulsa – esta mesma teria participado do seriado japonês Spielvan (lançado por aqui como Jaspion 2: Spielvan). Curiosamente, em Power Rangers, Machiko (1938 - 2006) era dublada em inglês por Barbara Goodson.

A metade dos anos 90 foi tomado por animações japonesas e os Super-Heróis Japoneses praticamente estavam se tornando extintos na programação. Nesse período de ruas vazias, sem os heróis de máscara e armadura em carne e osso, vieram os Power Rangers nas programações da TV Globo, uma emissora que sempre procurou dar um leve espaço para atrações do momento. Os Super Heróis Japoneses tiveram o seu curto espaço no começo de 1990 com Bicrossers nas tardes da Sessão Aventura até esta atração ser substituída por Malhação em 1995, coincidentemente o ano que estreou Power Rangers na emissora de Roberto Marinho (1904 - 2003).

Se Saban adotou os super-heróis em carne e osso da cultura pop japonesa para a linguagem americana, seria coerente que viríamos fazer o mesmo algum dia. Porém, houveram poucas tentativas conhecidas por aqui ( o que maior conhecemos foi: Insector Sun). Na maior parte desse tempo, toda a projeção da febre em nossas terras ganhou força mesmo é nas adaptações em quadrinhos pela arte e roteiro de artistas brasileiros. Ainda que com linguagem de quadrinhos americanos no começo, mas que aos poucos tomou forma cada vez que a cultura pop japonesa se solidificava com as animações japonesas. Tanto as animações quanto os seriados possuíam influencias do ocidente - apesar de cada um ter os seus toques orientais em particular.

Adaptar os clássicos seriados japoneses para um grande circuito é uma tarefa muito difícil. Isso porque o Tokusatsu – gênero o qual pertencem – dosam de elementos simples, rápidos e feitos na medida para atrair a garotada. Quando a dosagem é esticada sem a complexidade, é como fazer um suco com muita água - se torna um longa metragem com os seus espaços rasos no excesso. Em um tempo de duas horas, ou até mesmo um pouco menos, é necessário estender a dosagem e equilibrar a profundidade, acabando por torna-lo consideravelmente volumoso ou, por vezes, complexo. Isso se quiserem fazer algum sentido para um público mais velho ou até mesmo para críticos exigentes. 


O seriado Power Rangers faz parte de uma segunda geração de super-heróis ao vivo e em em carne e osso. Ainda que pertençam a classe dos Super-Heróis Japoneses, a diferença é que eles não são japonesas mas, sim, uma adaptação deles. Tal adaptação suavizou a essência dos originais, tiraram o drama e adicionaram humor – tornando um seriado bem mais infantil e bobo. Mesmo assim, conquistou o público pela nostalgia, pelos brinquedos, pelos jogos e pelo clima colorido. Não adianta, caíram no dialeto popular com funks e até mesmo álbum musical com músicas completamente em português - Power Rangers tem a Força, Power Rangers são heróis.  E a música tema (Go, Go, Power Rangers de Aaron Waters) - era diferente das canções embaladas pelos seriados japoneses, com sons orientais de raíz, era um belo rock que também colava na cabeça. Não adianta, quando o produto tem um bom estudo de mercado.  Super-Heróis sempre divertem, muitas vezes independente da qualidade de suas histórias - basta personalidade para maquiar seus buracos, maquetes e armaduras de papelão.

Com o avanço da cultura pop japonesa no mundo, Power Rangers é o maior exemplo de uma produção americana com características nipônicas (sem ser uma animação japonesa editada ou redesenhada para padrões ocidentais).

Embora não seja a primeira aventura no cinema, levou-se um tempo para que os Power Rangers ganhassem um filme com a cara de hollywood. Os Power Rangers de 2017 são completamente diferente dos Power Rangers dos anos 90 e dos seus filmes (extensões do seriado). O que acontece agora é um projeto mais ousado, seguindo as tendências atuais do cinema do gênero.

Com a popularidade cada vez maior do anti-heroísmo e uma certa rejeição do mercado em relação a super-heróis mais tradicionais e românticos, Power Rangers adere características novas, únicas e distintas para cada um do quinteto. Mas, diante de toda essa morfada, quem se destaca é a versão de Trini – a Ranger Amarelo - incorporada por Becky G, um reflexo bem pessoal da moderna geração, como os piercings e o corte de cabelo.  Não só no jeito como também no estilo, é um retrato considerado rebelde para a (então) Geração X dos primeiros Power Rangers.

O humor refinado prova que a reencarnação destes heróis buscou crescer com o público, mais uma vez se espelhando nos tempos atuais, sem conservadorismos e com diálogos rápidos e inteligentes por parte da interação da equipe -  criando, por vezes, um papel de autocrítico.

Enquanto Becky G. encanta, Elizabeth Banks (Rita Repulsa) assusta. Ao todo, uma ótima escalação, os cinco heróis são reencarnados com muito carisma pelo novo elenco.  Dacre Montgomery (Jason/ Ranger Vermelho) tem imponência de líder e convence ao nos mostrar um tipo de jovem solidário e leal, apesar de problemático, que se importa com os seus semelhantes. RJ Cyler (Billy/ Ranger Azul), apesar de exageradamente falante, é o nerd de alívio cômico da equipe feito em boa medida – um tipão que quem tem alma de criança vai entrar na pele do personagem também. Ludi Lin (Zack/ Ranger Preto) é o que tem menos destaque, mas mesmo assim – o esquentadinho da história - dosa de momentos familiares que assumem um dos pontos mais dramáticos da trama, desenvolvido com ótimos diálogos que criam uma profundidade incrível. Naomi Scott (Kimberly/ Ranger Rosa) deixa a sua graciosidade, ainda que tenha o seu posto roubado pela presença de Becky G.

Num geral, a história valoriza bem os personagens, mas não cuida bem do seu pilar. Assumindo um ritmo ágil, como o seriado, acaba deixando de lado elementos de fundo que não ficam bem explicados – para um seriado infantil, isso até acaba relevante, mas para um longa de grande circuito, essas falhas acabam gravemente visíveis em cena (apesar de maquiado por momentos de humor – um truque “Marvel”).  

A tendência em seguir com ferramentas do gênero se estende também para o comportamento dos heróis em ação. As emoções se sobrepõem às características visuais de origem: mantém-se em valorizar a expressão dos atores em ação, deixando as máscaras de lado.

Para um filme de origem, as cenas de ação deixam a desejar. Em compensação, há bons efeitos visuais (como uma cena embaçante no fundo da água, valorizando também a fotografia) – mas sente-se falta de mais reação aos impactos na pancadaria (como as famosas faíscas ou então qualquer outro tipo de elemento pra simular maior realismo ou ferocidade nos ataques). Porém, existem pontos práticos que tornam a refilmagem superior ao seriado – um plano dramático, com foco distinto nos personagens. Nesse ponto, é bem sucedido, junto ao humor que amadureceu de acordo com a sua época e geração. 

ATENÇÃO: Fiquem durante os créditos.




Saban x Marvel - Momento Pós-Crítica
A influência da Marvel Studios em Power Rangers é muito nítida. A começar pelo cartaz, o termo usando a marca “Marvel’s” antes do título é adotado por “Saban’s”. A economia das cenas de ação e uma valorização maior em tentar explicar a sua identidade, também é uma característica de muitos primeiros filmes solo de origem da Marvel (que costumam não obter nenhuma cena violentamente marcante, mas – em alguns pontos - engraçada) . O curioso é que existe uma justificativa para a Marvel fazer isso por causa dos eventos do filme Os Vingadores, mas injustificável para a Saban em seu Power Rangers, mesmo que tenha um tempo considerável (e 95% bem aproveitado) para apresentar bem os personagens.   

A importância da imagem sobreposta a máscara já fazia parte dos super-heróis Marvel do cinema antes da Marvel Studios  dar as caras. A começar por X-Men (2000) e logo depois, Homem-Aranha (2002).

A Marvel é filha de uma geração sessentista, de onde vieram os animês e mangás, uma época marcada por lutas pelos direitos humanos, pedidos de paz e de adolescentes que começavam a buscar uma revolução. A forma de humanizar super-heróis, seguindo a antropologia, não vem do novo Power Rangers, mas de toda a mistura dessa cultura em comum. 


Memórias da Sessão
Apesar de longe de tudo e de todos, estou conseguindo acertar a minha instalação ao novo lar, ainda mais perto de um dos meus (agora) shoppings favoritos que acabara de conhecer há 1 ano: o Parkshopping. Longe de tudo e de todos. Isso é um ponto ruim: 2 conduções pra qualquer buraco do RJ. De qualquer forma, um ótimo lugar e com bela paisagem enquanto andava pela kombi. Estava me sentindo no paraíso – passando por residências e condomínios luxuosos e redes de alimentação bem decoradas com espaços  ao ar livre - e me lembrei, há 1 ano, o quanto eu já estou amando Campo Grande.  Acredito que seja o lugar mais bonito que já morei.

O filme teria sido anunciado no formato 3D em algumas salas, mas a veracidade disso ainda desconheço

Depois de cumprir o meu dever (arranjar um buraco novo pra morar), aproveitei pra passar no Parkshopping, era logo ali – papo de 10 minutos, sabe? E então olhei o que estava passando na parte do cinema. Meu objetivo era assistir Power Rangers legendado, mas como era domingo e a primeira sessão legendada começava bem mais tarde, optei pela cópia dublada mesmo (vasta nos mais variados horários) - tive que me render, com tanta arma “de apoio a cultura nacional” apontada pro meu peito.  Adquiri a sessão com o desconto do cartão UNIQUE e saiu quase de graça. Realmente uma benção do UCI em tempos de crise.

No chove, não molha, aproveitei o tempo pra passar no Burguer King e recebi um atendimento maravilhoso. A atendente perguntou o meu nome, para que me chamasse pelo nome. Mas o melhor não foi isso e sim a reação da atendente que iria despachar o combo. Como estava demorando, pedi pra que colocasse pra viagem, assim que ela estava colocando na bandeja e foi perguntar qual o suco. Quando ela colocou o pacote da batata no saco de viagem, eu então – meio com vontade de não dizer – perguntei se não poderia colocar aquelas batatas que estava caídas ali na bandeja (eram umas cinco). Ela disse: “-Da bandeja?” e então pegou o meu pacote, foi até a máquina de batatas e encheu o dobro, depois me devolveu. O BRASIL QUE DEU CERTO! Eu fiquei emocionado com a atitude da moça e disse MUITO OBRIGADO! Com sorriso em todas as letras. Ela foi a minha Power Ranger desse dia divertido.

Houveram muitas crianças na sessão mas o comportamento de todos foram dez. Exceto por um moleque que ficava batendo na cadeira de frente com o corpo e batendo no meu joelho – ainda que raro.

Todos foram embora no fim dos créditos. Eu queria ficar mais um pouco, mas a moça que iria fazer a limpeza da sala já adiantou que não haveria mais nenhuma outra cena após o meio. Então eu volto a me questionar o motivo pelo qual eu fico até o fim dos créditos: além das cenas pós-créditos, observar se há algum texto ou frase (ainda que promocional). Coisas mínimas que ninguém se importa mas que fazem um diferencial danado nas minhas pesquisas.


SESSÃO CRÍTICA 
POWER RANGERS
Gênero: Aventura
Sessão Acompanhada: UCI Parkshopping  – 13:30 - 26/03/17 (Domingo )
Slogan: "É Hora de Morfar"; "Juntos Somos Mais"
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