terça-feira, 22 de janeiro de 2013

[Sessão Crítica] Django Livre

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 SESSÃO CRÍTICA
DJANGO LIVRE

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NOTAS DE PRODUÇÃO
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FICHA TÉCNICA


 SESSÃO CRÍTICA
DJANGO LIVRE

O ESCRAVO QUE VIROU COWBOY  

É bom frisar que Django Livre não é um filme focado em retratar a escravidão como vemos em outras histórias de época. Mas sim, uma aventura que aproveita este triste evento histórico de maneira inteligente em argumento (principalmente nos diálogos tanto divertidíssimos quanto afiados) e tanto elegante quanto moderno no quesito técnico. O estilo arrojado e criativo é marca de Quentin Tarantino. E não poupou esforços em seus filmes anteriores, seja em Pulp Fiction: Tempo de Violência (com mafiosos dançantes), Kill Bill (retratando uma ocidentalização da cultura asiática) ou em Bastardos Inglórios (onde nazistas se tornam os caçados, até por judeus).

Tarantino - a exemplo de seu Bastardos Inglórios em 2009 - luta ousadamente contra o limite da realidade de um período histórico. A bola da vez, antecede a guerra de secessão.  E ao criar novos heróis em tempos de escravidão, faz o mais curioso: une um alemão a um escravo negro. 

Se houve um movimento negro anti-racista contra a postura desta obra, é compreensível. É um tema delicado assim como aproveitar temas bíblicos e contar de maneira própria em uma ficção. A criatividade de Tarantino prova o por quê dele ser considerado um dos melhores diretores de Hollywood ao recontar essa dura realidade de uma maneira que (particularmente digo) não me pareceu nem um pouco ofensivo aos meus antepassados.


Protagonizando o elenco estão Christopher Waltz (Dr. King Schultz) e Jamie Foxx (Django). É impossível não se divertir com as boas cartadas de Waltz e os cacoetes seu personagem. Enquanto Jamie Foxx - já bem experiente com personagens dramáticos - mostra ter porte físico para encarnar esse interessantíssimo protagonista do título - por vezes comparado ao movimento da exploração negra.
Para Tarantino, em sua ficção do período históricoDr. Shultz é como um  fora-da-lei do bem. É como o personagem de Christopher Waltz nos apresenta, pelo menos. E Django - sentindo-se agradecido  pela libertação - tenta retribuir o amigo ajudando-o a caçar bandidos procurados para as autoridades.

Num certo momento, Django dialoga com o seu companheiro, Dr. Shultz, quanto a ser levado para aquela vida de caçador de recompensas e assume estar sujando as mãos como justificativa a sua exaltação. Por fora, acredito na opinião de especialistas quanto ao estudo de sociedade onde entra a questão dos negros se influenciarem pelos costumes antes vividos somente pela cultura branca.  Os escravos sujarem as mãos por seus patrões é um exemplo relacionado a esta marginalização da cultura negra iniciados no mundo branco.  Django, embora tenha sido liberto por Dr. Shultz, estava se tornando um escravo aprendiz de seus conhecimentos ambiciosos, porém.

Outro exemplo, dessa certa catequização entre cores, são os serviçais de Candle (Leonardo DiCaprio) retratados aos costumes e gosto de seu proprietário. Hoje ouvimos  negros Americanos tocando música onde valorizam suas riquezas materiais (exibindo carrões e jóias). Essa pobreza de espírito vem desde a realeza branca (dos tempos onde quem parecia ter sangue azul governava).  É interessante observar essa contestação racista na trama ao associá-la à nossa atualidade.

Django, mesmo sobre um cavalo e com ares de um civil comum, continuava a ser visto com asco ou descontentamento por todos os lados (até por pessoas de sua mesma cor de pele). Nesse ponto do argumento, também contribuído pelo ótimo elenco, vemos um exemplo onde Tarantino costuma brincar de forma inteligente com a reação dos personagens. Isso também se relaciona às mortes (algumas propositalmente ridículas) e a chuva artística de truculência típica de suas obras. 

Este Faroeste meio Blackxpoitation de Sérgio Leone de Tarantino é regado a homenagens ao cinema clássico do Faroeste, como as tomadas de introdução, passagens escritas e encerramento. E para melhorar ainda o clima, o tema principal (Django, composta por Luis Bacalov e Rocky Roberts) toca exatamente como as produções dessa época.  Num estilo geral, a trilha sonora, é uma salada de gêneros como visto em outras produções de Tarantino - unindo músicas de diversas décadas inclusive as de 70. 

Apesar de um pouco previsível quanto ao destino dos personagens, o ritmo de montanha russa é excepcionalmente dosado com humor negro, drama e ação. Caindo um pouco o ritmo nos atos decisivos, mas destacando completamente o herói (ou anti-herói) Django. Onde percebemos - a exemplo da Noiva de Kill Bill - o quanto seria legal revê-lo em uma futura série de filmes apenas com esse personagem.

Leonardo DiCaprio: seu versátil talento dispensa apresentações. Aqui ele vive um vilão,  Calvin Candle.

Kerry Washington: Sem a superficialidade dos apliques de cabelos lisos e lentes de contato o qual estamos costumados a ver em nossa atual geração, a atriz tem a chance de nos trazer o ar de sua graça: a beleza negra própria e natural. Kerry interpreta a esposa de Django,  Broomhilda. Como o desejo de todo grande mocinho, Django só quer salvar a sua mocinha e viver feliz ao seu lado.

Samuel L. Jackson: Está irreconhecível (a não ser pela voz) como o detestável Stephen. Fiel escravo de Candle (DiCaprio). Quando quem viveu sofrendo de escravidão todo um século e de repente ganha poder, tudo vira de cabeça para baixo ao avistar um novo mundo completamente novo daquela prisão. É importante perceber cuidadosamente os passos de Django e Stephen (Jackson). A importância entregue aos dois personagens, nos faz acreditar que ambos estão um mundo completamente novo. Stephen não tem cara de escravo - e nem Django, quando é liberto e segue crescendo na trama. O que dizer, às vezes, do próprio Brasil quando alguém da mídia fala que nós somos muito melhores do que qualquer outro país ao estarmos na frente de alguma coisa? O poder torna os pequenos mais convencidos à altura dos grandes.
O próprio diretor Quentin Tarantino faz uma participação.

Aos apressadinhos de plantão, ATENÇÃO: Não saiam antes do fim dos créditos.

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NOTAS DE PRODUÇÃO

Na pré-produção, grandes nomes foram procurados para interpretar os personagens da trama. São eles:

Will Smith em As Loucas Aventuras de James West (1998)
Will Smith: Originalmente estava escalado para viver Django.


Kevin Costner: Originalmente escalado para ser um dos capangas de Leonardo DiCaprio (Candle)
Kurt Russell em Tombstone: A Justiça Está Chegando (1993)
Kurt Russell: foi também um nome anunciado após a saída de Kevin Costner.


Curiosidade: Há uma produção de 1966 com o mesmo nome do personagem título e que posteriormente virou uma cinessérie.

Curiosidade 2: Papéis de vilões são casos raros na carreira de Leonardo DiCaprio. Em O Homem da Máscara de Ferro (1998) ele vive o cruel Rei Louis XIV , irmão gêmeo do bondoso Philipe  (também interpretado por ele mesmo). Na história, o rei mantém preso o próprio irmão em uma máscara de ferro para continuar sendo rei.

FICHA TÉCNICA
Título Original: Django Unchained
Duração:  165 minutos
Classificação: 16 Anos
Sessão Acompanhada: UCI Knoplex - 17:35 - 08 E - 20/01/13
Gênero: Faroeste
País: E.U.A.
Direção: Quentin Tarantino

Sinopse: Ambientado no sul dos Estados Unidos dois anos antes do advento da Guerra Civil Django Livre é estrelado por Jamie Foxx no papel de Django um escravo cujo passado brutal com seus antigos senhores o deixa cara a cara com um caçador de recompensas alemão o dr. King Schultz. Schultzestá no encalço de assassinos os irmãos Brittle e Django é o único que poderá levá-lo até eles. O heterodoxo Schultz compra Django com a promessa de alforriá-lo após a captura dos Brittle mortos ou vivos.br Com o sucesso da missão Schultz liberta Django mas ambos optam por não se separar e seguir pelo mesmo caminho. Com Django ao seu lado Schultz sai em busca dos criminosos mais procurados do sul. Enquanto vai aperfeiçoando suas habilidades como caçador Django permanece focado no seu único objetivo: encontrar e resgatar Broomhilda a esposa que ele perdera para o tráfico de escravos anos atrás.br A busca de Django e Schultz acaba por levá-los a Calvin Candie o proprietário de Candyland uma abominável propriedade agrícola. Explorando a fazenda sob falsos pretextos Django e Schultz despertam a suspeita de Stephen o escravo doméstico de confiança de Candie. Seus passos passam a ser seguidos e uma organização perigosa fecha o cerco em torno deles. Se Django e Schultz quiserem escapar com Broomhilda serão obrigados a escolher entre a independência e a solidariedade entre o sacrifício e a sobrevivência.

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